São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Infectado transa com mais de 100 por ano

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O desenhista Márcio R., 39, sai com mais de 100 homens diferentes por ano. A ninguém ele conta que tem o vírus da Aids. ``Não sei se vamos para a cama no dia seguinte, nem se vamos nos encontrar de novo. Não vale a pena informar que sou um portador."
Não significa que Márcio seja irresponsável. Ele participa de grupos que trabalham com portadores e há muitos anos adotou o que se chama de ``sexo seguro", práticas sexuais sem risco de contaminação. ``Estou pensando primeiro em mim. Se me reinfectar ou pegar sífilis, uma gonorréia, minha saúde vai se complicar."
Márcio acha que se infectou em 89, quando viveu com um companheiro que estava com o vírus. Suas relações sempre foram curtas. ``Não sigo o padrão heterossexual de casamento, cheio de cobranças. Prefiro uma vida sexual livre e intensa. Só não abro mão da segurança. Sexo com camisinha."
Às vezes ele encontra a resistência. ``Gosto quando alguém toma a iniciativa de colocar a camisinha. Mas normalmente sou eu que tomo essa atitude. Com muita gente, preciso fazer sermão para que use o preservativo."
Márcio diz que quando soube que era soropositivo ficou se perguntando como seria a vida sem sexo. ``Eu não posso viver sem transar, eu dizia. Hoje acho que transo melhor que antes. Quando não sabia do vírus, eu ficava todo preocupado. Às vezes não usava camisinha com medo de que o outro pensasse que eu estava desconfiando dele. Hoje sei como se deve transar. Colocar a camisinha me dá tesão."
Márcio diz que em três oportunidades contou aos parceiros que estava infectado. ``O primeiro disse que voltaria no dia seguinte e nunca mais apareceu. O segundo era um caso que eu queria terminar. Achei que a notícia do HIV iria assustá-lo o suficiente para que fosse embora. Não resolveu. Ele disse que estava apaixonado e ficaria comigo assim mesmo. Para o terceiro, quando contei, ele me olhou nos olhos e confessou que também era soropositivo."

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