São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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'Se há algum risco, o melhor é evitar'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se trata da Aids, não há um consenso entre os especialistas sobre as práticas sexuais seguras. Alguns médicos preferem radicalizar. ``Se há algum risco, o melhor é evitar", diz o infectologista Caio Rosenthal.
O beijo de língua, por exemplo, pode ser arriscado se os parceiros tiverem minúsculos ferimentos na boca. ``Se estivéssemos na Escandinávia, eu diria que o beijo não traz risco. No Brasil, eu digo que traz", afirma Rosenthal.
O Instituto de Estudos Avançados da Sexualidade Humana de São Francisco, na Califórnia, lançou um ``manual do sexo seguro" que virou uma espécie de bíblia no assunto. Mesmo aí, os autores não se aventuram a garantir o que é arriscado e o que não é. No Brasil, o manual foi traduzido pelo Gapa, Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (veja no quadro um resumo das práticas sexuais e seus riscos).
O Grupo pela Vidda, de São Paulo, há anos vem organizando ``oficinas de sexo seguro" para gays, lésbicas e heterossexuais. Munidos de pênis artificiais e camisinhas, os grupos treinam a ``descoberta do corpo" e exercitam práticas sexuais que seriam de menor risco.
O importante -lembram os especialistas- é considerar que os cuidados devem ser tomados sempre e com todo mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 90% dos portadores do vírus não sabem que o são. ``Nos EUA, um em cada cem homens tem o HIV", diz Rosenthal.
``Eu parto do princípio que todos são soropositivos", diz Claudio Nascimento, 24, gerente de compras e secretário da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis.
Em abril do ano passado, Claudio se casou com Adauto Belarmino Alves, 30, ativista de direitos humanos e portador do HIV. Na semana passada, no Rio, eles comemoram um ano de casamento.
``Só fazemos sexo seguro", diz Adauto. ``Por isso não faz diferença dizer se tem ou não tem o vírus. Acaba sendo mais arriscado transar com quem acha que não tem, pois esse vai tomar menos cuidado."
Adauto participou da criação de várias entidades, entre elas a Abia, Associação Brasileira de Interdisciplinar de Aids, ao lado de Herbert de Souza, o Betinho.
Ele afirma que as pessoas devem se proteger e não se iludir com as aparências. ``Quem me vê cheio de saúde não vai imaginar que sou soropositivo", alerta.

GAPA - (011) 66-0755 e 825-6003 - PELA VIDDA (011) 258-7729.

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