São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995 |
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Ideólogo da Internet prega revolução digital no Brasil
MARIA ERCILIA
Diretor do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology, Negroponte se tornou, nos últimos anos, um ideólogo informal da sociedade da informação. O Brasil está incluído no roteiro das palestras que costuma dar pelo mundo inteiro sobre a convergência de tecnologias digitais e suas consequências. Negroponte deve chegar ao país no dia 8 de agosto, para três seminários, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Seu livro, "A Vida Digital, número um na lista de best sellers do "New York Times, sai esta semana no Brasil. Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha. Folha - John Sculley (consultor de marketing norte-americano, que lançou o computador Macintosh da Apple) afirmou numa entrevista que o Brasil está condenado a ser um mercado consumidor do Primeiro Mundo. O que o sr. pensa disso? Negroponte - Pouco provável. Há tantos jovens no Brasil que, se lhes derem um mínimo de chance, eles serão credores, não devedores do mercado de consumo. Folha - Quais são os piores obstáculos para o Terceiro Mundo na era da informação? Negroponte - Os monopólios de comunicações. Folha - Christopher Lasch afirmou em "A Revolta das Elites que o abismo entre pobres e ricos aumenta, e a nova elite intelectual é pior que a velha aristocracia -menos polida, com menor preocupação social e desprovida de sentimento nacional. Nicholas Negroponte - Obviamente discordo. Tenho muita sorte, desfruto de privilégios e de um estilo de vida maravilhoso. Mas grande parte dele vem da Internet (rede mundial de computadores). Tento nunca ser rude, e sempre respondo minhas mensagens. Quando alguém é presunçoso, perco a paciência. É uma espécie de atitude aristocrática, mas eu tenho mais de 50 anos, lembre-se. Por isso, perdoe este lapso. Folha - Qual será o modelo de crescimento da Internet? Negroponte -Devido à maneira como a rede é desenhada, ela certamente não cairá nas mãos de conglomerados de TV. Mas será comercial, como o telefone. Folha - Que tipo de nova tecnologia está mais presente na sua vida? Negroponte - Ser digital, claro. Estou tão conectado, posso responder suas questões mesmo que meu dia esteja totalmente tomado. É diversão, é trabalho? É melhor que TV, ou um filme no avião. Folha - Como o sr. acha que o trabalho vai se modificar? Negroponte - Menos sincrônico, menos determinado pelo lugar. Acho que as pessoas vão ganhar a vida de forma mais primitiva, trabalhando para si mesmas. Folha - As redes de computador são de fato igualitárias? Negroponte - Hoje parece que sim. Mas estamos muito no princípio do processo. Folha - Não é uma democracia para poucos? A maioria dos usuários da Internet é de brancos do sexo masculino, do Primeiro Mundo. Negroponte - Era assim, mas já não é mais. Idade e sexo não têm importância na Internet. Folha - Que aspectos da era digital o preocupam? Negroponte - Segurança e privacidade. Folha - O sr. acha que a vida das pessoas está melhorando? Negroponte - Sim. Pergunte a qualquer um entre 15 e 20 anos. Folha - Como o problema da taxa informação/ruído será resolvido num mundo conectado? Negroponte - Com serviços de seleção de informação. O ruído de um é a informação de outro. Pais penduram um desenho de criança na porta da geladeira, e aquilo é arte para alguns olhos. Folha - O sr. acha mesmo que o computador é capaz de despertar o artista no homem comum? Negroponte - Sim, profundamente. Estou surpreso que você pergunte. Suas questões até agora sugerem que você saberia disso! Folha - Clifford Stoll afirmou, em seu livro "Silicon Snake Oil, que o computador é na verdade um meio de expressão e aprendizado mais pobre e limitado. Negroponte - O livro de Cliff é estúpido. Ele diz, em resumo: "Arrume uma vida. Certo, porque Cliff não teve uma. Ele e seus dois gatos sempre tiveram uma vida de "hackers, e ele fez um grande trabalho. Depois teve uma crise de meia-idade e acordou. Eu tenho uma vida, uma vida muito boa, uma mulher maravilhosa, um filho incrível, pais vivos e bem. Trabalho duro para garantir que a família signifique mais que tudo. A Internet me permite minha vida, em vez de roubá-la. Texto Anterior: Com inflação não se faz média Próximo Texto: 'Barreira da geografia cairá' Índice |
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