São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Ideólogo da Internet prega revolução digital no Brasil

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nicholas Negroponte, 52, faz questão de ser o melhor outdoor para a revolução digital que vem pregando há dez anos. "Estou tão conectado, posso falar com você de onde eu estiver, afirmou na entrevista que concedeu à Folha via Internet.
Diretor do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology, Negroponte se tornou, nos últimos anos, um ideólogo informal da sociedade da informação.
O Brasil está incluído no roteiro das palestras que costuma dar pelo mundo inteiro sobre a convergência de tecnologias digitais e suas consequências. Negroponte deve chegar ao país no dia 8 de agosto, para três seminários, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Seu livro, "A Vida Digital, número um na lista de best sellers do "New York Times, sai esta semana no Brasil. Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - John Sculley (consultor de marketing norte-americano, que lançou o computador Macintosh da Apple) afirmou numa entrevista que o Brasil está condenado a ser um mercado consumidor do Primeiro Mundo. O que o sr. pensa disso?
Negroponte - Pouco provável. Há tantos jovens no Brasil que, se lhes derem um mínimo de chance, eles serão credores, não devedores do mercado de consumo.
Folha - Quais são os piores obstáculos para o Terceiro Mundo na era da informação?
Negroponte - Os monopólios de comunicações.
Folha - Christopher Lasch afirmou em "A Revolta das Elites que o abismo entre pobres e ricos aumenta, e a nova elite intelectual é pior que a velha aristocracia -menos polida, com menor preocupação social e desprovida de sentimento nacional.
Nicholas Negroponte - Obviamente discordo. Tenho muita sorte, desfruto de privilégios e de um estilo de vida maravilhoso. Mas grande parte dele vem da Internet (rede mundial de computadores). Tento nunca ser rude, e sempre respondo minhas mensagens. Quando alguém é presunçoso, perco a paciência. É uma espécie de atitude aristocrática, mas eu tenho mais de 50 anos, lembre-se. Por isso, perdoe este lapso.
Folha - Qual será o modelo de crescimento da Internet?
Negroponte -Devido à maneira como a rede é desenhada, ela certamente não cairá nas mãos de conglomerados de TV. Mas será comercial, como o telefone.
Folha - Que tipo de nova tecnologia está mais presente na sua vida?
Negroponte - Ser digital, claro. Estou tão conectado, posso responder suas questões mesmo que meu dia esteja totalmente tomado. É diversão, é trabalho? É melhor que TV, ou um filme no avião.
Folha - Como o sr. acha que o trabalho vai se modificar?
Negroponte - Menos sincrônico, menos determinado pelo lugar. Acho que as pessoas vão ganhar a vida de forma mais primitiva, trabalhando para si mesmas.
Folha - As redes de computador são de fato igualitárias?
Negroponte - Hoje parece que sim. Mas estamos muito no princípio do processo.
Folha - Não é uma democracia para poucos? A maioria dos usuários da Internet é de brancos do sexo masculino, do Primeiro Mundo.
Negroponte - Era assim, mas já não é mais. Idade e sexo não têm importância na Internet.
Folha - Que aspectos da era digital o preocupam?
Negroponte - Segurança e privacidade.
Folha - O sr. acha que a vida das pessoas está melhorando?
Negroponte - Sim. Pergunte a qualquer um entre 15 e 20 anos.
Folha - Como o problema da taxa informação/ruído será resolvido num mundo conectado?
Negroponte - Com serviços de seleção de informação. O ruído de um é a informação de outro. Pais penduram um desenho de criança na porta da geladeira, e aquilo é arte para alguns olhos.
Folha - O sr. acha mesmo que o computador é capaz de despertar o artista no homem comum?
Negroponte - Sim, profundamente. Estou surpreso que você pergunte. Suas questões até agora sugerem que você saberia disso!
Folha - Clifford Stoll afirmou, em seu livro "Silicon Snake Oil, que o computador é na verdade um meio de expressão e aprendizado mais pobre e limitado.
Negroponte - O livro de Cliff é estúpido. Ele diz, em resumo: "Arrume uma vida. Certo, porque Cliff não teve uma.
Ele e seus dois gatos sempre tiveram uma vida de "hackers, e ele fez um grande trabalho. Depois teve uma crise de meia-idade e acordou.
Eu tenho uma vida, uma vida muito boa, uma mulher maravilhosa, um filho incrível, pais vivos e bem.
Trabalho duro para garantir que a família signifique mais que tudo. A Internet me permite minha vida, em vez de roubá-la.

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