São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Uma ressaca violenta

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A lua-de-mel entre empresariado e o governo parece chegar ao final. São evidentes os sinais de insatisfação com a política econômica. O ataque sobre o arrocho monetário do Banco Central foi violento na última semana. Deve piorar mais, com a adesão de outros segmentos da sociedade.
O movimento contra os juros altos começou em função da cobrança da TR nos empréstimos agrícolas. Atingiu o comércio e a indústria a partir da concordata da Casa Centro. E chega logo ao sistema bancário.
As causas desta frente contra a política monetária são simples de serem percebidas. A equipe econômica vem lutando há meses contra o superaquecimento da economia. Os dados divulgados na sexta-feira pelo IBGE dão a real dimensão da explosão de crescimento. Não tendo a política fiscal, o governo teve que usar os juros como arma nesta luta.
O BC vem impondo controles cada vez mais fortes sobre a criação de crédito, principalmente nas vendas a prazo pelo sistema bancário. Mas o comércio e as instituições financeiras contornaram a maioria destas ações. Cheques pré-datados, empresas de factoring, debêntures, commercial papers e uso de empresas no Uruguai para realizar financiamentos para o comércio foram algumas das mais bem-sucedidas manobras.
Como o consumidor perdeu, nos longos anos de alta inflação, a capacidade de distinguir juros reais de nominais, foi fácil para o comércio embutir custos financeiros absurdos nas vendas a prazo. Com isto, os lucros, para os comerciantes e os intermediários financeiros, criaram uma marcha da insensatez. Princípios elementares de risco de crédito e de solvência foram descartados na busca do lucro fácil.
Esqueceram estes senhores que os efeitos de uma política monetária apertada e de juros altos podem demorar, mas aparecem. Agora indústria, comércio e bancos querem culpar o governo por suas decisões insensatas. Todo o apoio deve ser dado à equipe econômica na tentativa de consolidar mais os sucessos do Plano Real.

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