São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Trunfo é a inflação

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O Plano Real se aproxima de seu primeiro aniversário, em julho, com resultados de inflação que contrastam com os de seus antecessores. As taxas registraram pequeno salto, mas já dão sinais de queda.
O IPC da Fipe (preços ao consumidor) e o IGP (com maior peso dos preços no atacado) confirmam que o repique inflacionário não passou disso. Nos planos anteriores, nova tendência de alta persistente surgiu antes de 12 meses.
No Cruzado, faltou ânimo para qualquer comemoração do primeiro aniversário justamente porque a inflação estava de volta e com força total, tanto assim que o ministro que sucedeu Dilson Funaro, Bresser Pereira, aplicou o segundo choque com inflação acima de 20%.
A grande diferença é que, desta vez, a engenharia da URV evitou as consequências danosas do congelamento de surpresa e a âncora cambial deixa as chamadas forças de mercado bem comportadas.
A puxada no câmbio em março e o aumento nas alíquotas de importação que veio em seguida deram a entender que o governo deixara de lado, como prioridade, a inflação, temendo a crise cambial.
O cenário internacional, entretanto, mudou já no final de abril. O movimento de câmbio (tanto comercial quanto financeiro) voltou a registrar superávits e as reservas externas pararam de cair. Crescem este mês.
A reversão de expectativas a partir desses fatos deu novo fôlego ao governo para manter a âncora cambial como freio nos preços, enquanto encaminha as reformas no Congresso.
A greve dos petroleiros deixa o país intranquilo, mas acaba tendo efeito inverso ao pretendido por suas lideranças, de mostrar, também, oposição à quebra de monopólios estatais.
O grande trunfo do governo para lidar com as turbulências desta fase do Real e avançar com as reformas que julga indispensáveis à consolidação do plano é a inflação baixa.
Isto explica, por exemplo, a intransigência na negociação com os petroleiros. Se o governo cede na área salarial, abre espaço para a volta da reindexação. Da mesma forma, as medidas anticonsumo. Se a economia continuar crescendo 10% ao ano, não há plano que resista.
(GJC)

Hoje, excepcionalmente, Marcos Cintra não escreve esta coluna.

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