São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Ciências humanas discordam de critérios

DA REDAÇÃO

Segundo pesquisadores de ciências humanas, os dados do ISI (Instituto para a Informação Científica) não servem como critério de avaliação da produção da área.
Entre os cientistas com mais de 200 citações nas publicações indexadas pelo ISI, nenhum pertence às humanidades.
Para Milton Meira, professor de filosofia da USP, o critério de avaliação por meio de citações tem pelo menos dois pontos falhos em relação a sua disciplina.
Segundo ele, a lista não inclui algumas das principais revistas de filosofia, como as francesas "Revue de Métaphysique et de Morale" e a "Revue Philosophique". "Essas revistas não seguem os padrões de indexação norte-americano, mas isto não diminui em nada a importância delas", diz ele.
Outro problema apontado por Meira é que as revistas de filosofia têm indexadores próprios, como The Philosopher's Index (EUA) e Répertoire Bibliographique de la Philosophie (Bélgica).
Segundo o professor de filosofia medieval na USP, José Carlos Estevão, em um campo como a filosofia a quantificação de artigos publicados no exterior "é uma questão fora do lugar".
Em primeiro lugar, diz Estevão, não existem revistas internacionais de filosofia, mas revistas de circulação internacional, todas especializadas. Isto é, mesmo revistas imprescindíveis para o estudioso são produzidas majoritariamente em nível local -uma certa comunidade de pesquisadores, de determinada língua e de certa perspectiva.
Estevão lembra também que a desconsideração da especificidade da produção da filosofia está levando a uma diminuição da qualidade das dissertações e teses.
"Estão sendo aplicados critérios de avaliação de produtividade idênticos ao de áreas como a física, que funciona de modo completamente diferente. Um mestrando em física entra numa pesquisa circunscrita, pré-determinada e realizada mais ou menos coletivamente. Na filosofia o trabalho é totalmente individual. Um estudante de mestrado ou doutorado em filosofia, com prazo de três anos para terminar sua dissertação ou de cinco para terminar seu doutoramento, vai produzir um trabalho muito inferior ao de um físico, no mesmo período", explica Estevão.
"É mais fácil escrever um texto em inglês sobre matemática ou física, que têm uma linguagem técnica, do que um ensaio de crítica literária ou sociologia" , diz a antropóloga Sylvia Caiuby Novaes, da USP, que terá seu livro "Jogo de Espelhos" lançado pela editora da Universidade do Texas (EUA).
Outro problema apontado por ela é que as ciências humanas estão voltadas para temas locais (literatura brasileira, comunidades indígenas), enquanto as "hard sciences" lidam com objetos universais (como leis matemáticas) -o que seria determinante para a maior receptividade internacional de pesquisadores dessas áreas.

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