São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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Trabalho da Química da USP tem a maior repercussão fora do país

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
DO NOTÍCIAS POPULARES

Vem do Instituto de Química da USP o conjunto de trabalhos científicos brasileiros de maior repercussão no exterior. O IQ teve de 1981 a 1993 14 publicações citadas mais de 50 vezes na cena internacional.
Em segundo, bem atrás, aparece o Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas, com sete. O Instituto Astronômico e Geofísico da USP e o Instituto de Física e Química da USP de São Carlos empatam em seis.
Na relação dos 170 brasileiros com mais de 200 citações, há 15 docentes do IQ. No segundo posto fica a Medicina da USP de Ribeirão Preto, com sete professores.
O médico Walter Colli, diretor do IQ, vê raízes históricas no sucesso da instituição que chefia.
Segundo Colli, que aparece em 18º lugar na relação de cientistas brasileiros mais citados, os fundadores do instituto tinham uma ``mentalidade homogênea" na defesa do regime de dedicação total à universidade.
``Era gente que acreditava no tempo integral", lembra Colli, 56.
O IQ também se beneficiou da reforma universitária dos anos 60, que concentrou ali toda a pesquisa da USP em bioquímica (ciência que estuda aspectos químicos dos seres vivos).
O Departamento de Bioquímica tem 37 docentes; o de Química Fundamental, 75.
Em outras instituições, os departamentos de bioquímica costumam se ligar a faculdades da área médica.
``Aqui, foi uma exceção: pegamos os bioquímicos", nota Walter Colli, que fazia parte do primeiro grupo -dissidentes da Faculdade de Medicina liderados por Isaias Raw, hoje no Instituto Butantan- a mudar-se para os laboratórios da então lúgubre Cidade Universitária, em 1965.
O IQ só seria formalmente inaugurado cinco anos depois.
O diretor do Instituto de Química cita a preocupação com a pesquisa como critério básico para a contratação de docentes.
``Na Bioquímica, chegamos a ficar dois anos com vaga aberta, até que apareça alguém bom, mesmo que seja de fora", diz Colli. Para ele, ``não se deve contratar ninguém só com a justificativa de que é para dar aula".
Ao sucesso no campo acadêmico, contrapõem-se tropeços na interface instituto-iniciativa privada.
Colli aponta aí um paradoxo. Para ele, a razão dos titubeios na hora de falar com o mundo real é a mesma que fez do IQ um respeitado centro de pesquisa: a defesa intransigente do regime de dedicação integral à docência e à pesquisa (RDIDP).
Levada ao paroxismo, essa atitude resultou, na opinião do diretor, em um instituto que muitas vezes vê o RDIDP ``como uma espécie de monastério".
Os graduandos têm pouco ou nenhum tempo para estagiar, submetidos por quatro anos a oito horas diárias de aulas.
Ao se diplomarem, enfrentam no mercado formandos de outras escolas, que compensam uma base científica inferior com a experiência dos estágios.
(APJ)

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