São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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gol no Oriente

MÁRIO MAGALHÃES

mas cobram com rigor.
O futebol do país é gerido com padrões empresariais por um motivo simples: os clubes são propriedade de empresas. Não há a figura do dirigente não-remunerado, amador. Todos são executivos profissionais. Descobriram que futebol rende.
Zico foi para o Kashima quando este era da segunda divisão, em 91. Nos anos 80, vingara no Japão o brasileiro Rui Ramos, destaque da seleção japonesa após se naturalizar.

Mudança afetiva
O sucesso dos brasileiros causou uma transformação afetiva no país. Habituados a ver jogos do campeonato italiano pela televisão, os japoneses preferiam os clubes da Itália.
Na Copa Toyota (título mundial de clubes), em dezembro de 1993, a maioria dos 52 mil espectadores que lotaram o estádio nacional de Tóquio torceu para o italiano Milan contra o brasileiro São Paulo.
Um ano e meio depois, as camisas da seleção brasileira superavam as da italiana, nas ruas de Tóquio, às vésperas da decisão da Copa dos EUA.
Com a evolução do futebol no Japão, o comportamento da torcida também muda. No início, eram só aplausos. Agora, há gritos. Em muitos estádios, torcedores tocam sambas -outro fruto da Conexão Brasil.

Matar ou morrer
Um dos segredos do sucesso do futebol no Japão é que, por ser gerido com eficiência empresarial, virou espetáculo adaptado à cultura local.
No país dos samurais, nenhum embate termina empatado. Se há igualdade no tempo normal da partida, há prorrogação com "morte súbita" -o primeiro a marcar um gol vence. Se persiste o empate, os times vão aos pênaltis, até que haja um vencedor e um perdedor. Um mata, outro morre.
Até agora, os brasileiros têm se dado bem -o Yomiuri conquistou o título da Liga em seus dois primeiros anos. Despertam uma histeria que lembra a de astros da música popular, talvez pela grande presença feminina nos estádios. "Tenho medo de contar como as coisas são; no Brasil, vão pensar que estamos deslumbrados", diz Leonardo.
No fim do ano passado, Alcindo viajou de férias para a casa de sua família, no interior do Paraná, próximo a Foz do Iguaçu.
"Quando o avião aterrissou no aeroporto de Foz, pensei que finalmente iria descansar da loucura da torcida", conta Alcindo.
Relaxado, ele desceu do avião e caminhou para buscar a bagagem. Segundos depois, um frenesi tomou conta do local. Turistas japoneses, que lotaram um avião para visitar as Cataratas do Iguaçu, viram Alcindo e o cercaram. "Um dia ainda volto de vez para o Brasil, mas vou sentir saudade dessa festa", diz o jogador.

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