São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Até o nhenhenhém é tema de discussão

DO ENVIADO ESPECIAL

Ao contrário de algumas previsões, os debates em torno das novas diretrizes da CNBB não despertaram muitas polêmicas.
Como os bispos não são obrigados a adotá-las (eles são subordinados ao papa, não à CNBB), preferiram concentrar sua atenção em alguns detalhes do anteprojeto do documento final.
As polêmicas são as mais diversas: vão desde à conveniência de discutir uma condenação ao casamento de homossexuais até o modo como as entidades divinas devem ser citadas nos documentos da entidade.
Na plenária de quinta-feira, os bispos ficaram boa parte de seu tempo discutindo como deveriam chamar Nossa Senhora, mãe de Jesus Cristo. Uns defendiam a inclusão apenas de seu nome, Maria.
D. Ângelo Salvador, bispo de Coxim (RS), defendeu a expressão ``Mãe do Salvador". Outros bispos falaram em ``mãe do Espírito Santo" e em ``mãe de Deus". Um dos integrantes da mesa que coordenava os trabalhos brincou: ``Só não pode `mãe do pai'."
No mesmo dia, outra polêmica: como fazer referência à Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Uns defendiam a fórmula ``Santíssima Trindade". Outros, preferiam registrá-la como ``Pai, Filho e Espírito Santo".
No dia seguinte, o boletim interno da assembléia perguntava: ``Como se fala nhenhenhém no jargão eclesiástico?"
Os bispos, porém, continuaram atentos aos detalhes. Na sexta-feira, eles discutiam como pedir perdão aos povos indígenas e negros subjugados e escravizados no Brasil com a conivência da igreja.
O texto original dizia que o passado da igreja estava ``cheio de dívidas". D. Serafim Spreafico, de Grajaú (MA), foi ao microfone. Disse que era melhor falar em pecados do que em dívidas.
``Alguém pode aparecer por aí querendo cobrar a tal dívida em dinheiro", disse. Na dúvida, o plenário resolveu assumir o pecado e esquecer a dívida.
O plenário que elegeu d. Lucas, adversário do sincretismo entre ritos católicos e afro-brasileiros, riu muito quando d. José Maria Pires, arcebispo da Paraíba, encerrou seu discurso de despedida (está em processo de aposentadoria) com a palavra ``axé" -saudação utilizada em cultos africanos.
Negro, d. José não gosta do apelido de ``d. Pelé" -prefere o de ``d. Zumbi", numa referência ao líder de escravos que se rebelaram e criaram comunidades próprias, os quilombos.

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