São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Greve dos petroleiros só acaba com acordo, diz FUP

SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder sindical Antônio Carlos Spis, 44, afirma, que a greve dos petroleiros é contra ``o arrocho e as reformas" constitucionais propostas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ao mesmo tempo, ele cai em contradição e nega que a paralisação seja política.
``Se eu quisesse fazer uma greve em defesa do monopólio do petróleo, eu tinha que ter começado a paralisação há um mês e ela teria que parar em junho. Não vou colocar uma categoria em greve para ficar três meses parada."
Coordenador nacional da FUP (Federação Única dos Petroleiros) e funcionário da Petrobrás há 22 anos, ele se licenciou da empresa em 89 para dirigir o sindicato da categoria em São Paulo. Spis está incluído na lista de 59 demitidos por causa da paralisação.
``Esta greve, como está radicalizada, não vai ter nenhum demitido", desafia. A paralisação completa hoje 20 dias.

Folha - No documento com as reivindicações dos petroleiros, vocês colocam itens contra as reformas constitucionais. A greve é política?
Spis - A greve é contra o arrocho e as reformas. A gente não faz uma greve sem estar ligado à conjuntura. A pauta específica é econômica e social. Nos rotulam como greve política porque somos ligados à CUT e o governo tem como intenção primeira quebrar a CUT, que é a central que preocupa. Não tínhamos intenção alguma de ter um enfrentamento ao governo FHC através da greve.
Folha - Mas no início este conflito também era político?
Spis - Não era. Se eu quisesse fazer uma greve em defesa do monopólio do petróleo, eu teria que ter começado a paralisação há um mês e ela tem que parar no começo de junho. Eu não vou colocar uma categoria em greve para ficar três meses parada.
Folha - Os petroleiros são os mais temidos pelo governo dentre os trabalhadores das estatais?
Spis - A categoria petroleira parece que às vezes é mais mobilizada e radicalizada que outras mas isto não é verdade. Nós temos algumas realidades específicas. Somos uma única empresa a nível nacional. A especificidade da tarefa nos une bastante. Os petroleiros de uma determinada refinaria sabem o que está acontecendo na outra.
Folha - Como é o trabalho de base dentro dos sindicatos?
Spis - As assembléias mais importantes são apontadas para as portarias das refinarias para pegar inclusive quem tem medo de ir ao sindicato. E dar o direito deste companheiro polemizar na portaria.
Folha - E a participação tem crescido?
Spis - A participação nas portarias é muito boa. A pessoa intransigente, que não vai fazer greve, sabe que será vaiada na portaria. A evasão, por falta de cumprimento de uma decisão da assembléia, diminui. É um fator que condiciona a categoria a ser mais unida. Outro fator é que nós não temos petroleiros formados no mercado.
Folha - Isto é quase que uma estabilidade no emprego.
Spis - Nós temos uma relativa garantia no emprego. Temos uma cláusula que a Petrobrás se compromete a não proceder demissões em massa e arbitrárias.
Folha - Há uma preocupação da FUP com os demitidos?
Spis - Nós somos punidos sempre, mas nós voltamos. Temos 59 demitidos. Todos vão receber salário enquanto estiverem fora e vão voltar para a Petrobrás. E esta greve, como está radicalizada, não vai ter nenhum demitido.
Folha - Qual é o salário médio da Petrobrás?
SIPS - Nós trabalhamos com faixas salariais, que vão de 1 a 56. No nível médio (técnicos), é de R$ 740. A média do nível superior é R$ 1.400 e a média dos 50 mil trabalhadores é de R$ 933. Ela é alta porque as faixas salariais mais baixas não existem. A empresa acaba com o trabalhador que ganha menos e terceiriza.
Folha - Esta é a greve mais radicalizada da categoria?
Spis - A greve de 83 estava radicalizada, mas não era greve nacional (a greve aconteceu nas refinarias de Campinas e Mataribe, Bahia). A primeira greve com controle de produção, mais forte, é esta. Em 91 tivemos uma greve que durou 21 dias.
Folha - Como você vê a briga entre Itamar e Pazzianotto?
Spis - Acho que o Pazzianotto teve uma atuação no mínimo estranha no TST (Tribunal Superior do Trabalho). Ele trouxe fundamentações muito ruins, sem base na figura jurídica. Chegou a dizer que fizemos um acordo fantasioso com Itamar Franco.
Acho que o Pazzianotto recebeu uma missão para ir ao tribunal para tentar descaracterizar o acordo e tirar das costas do governo o ônus para cumpri-lo. Só que ele extrapolou. Ele atacou as pessoas que tinham representatividade.
Folha - O ex-presidente foi ingênuo?
Spis - Não acho. Ele reuniu os ministros da Fazenda, Minas e Energia, Casa Civil e Trabalho em Juiz de Fora (MG) para resolver a questão. O FHC está equivocado, ele tem de mostrar o papel de estadista. No mínimo ter um jogo de cintura para acabar com o impasse.
Folha - A greve ameaça o estado de Direito?
Spis - Eu acho que não, porque esta sentença específica é muito polêmica. Ela não foi embasada em fundamentação jurídica. A continuidade da greve ajuda na persistência da polêmica. Por isto que a gente não aceita a proposta de voltar a trabalhar para depois discutir.
Se voltar a trabalhar amanhã, depois de amanhã ninguém lembra mais de petroleiro. Principalmente o governo. Ou senta para negociar ou nos enrola mais uma semana e não sai nada.
Folha - Até quando dura a greve?
Spis - A greve vai durar com certeza até que a gente tenha um caminho sólido a trilhar. A categoria petroleira está ofendida na sua honra. Fomos tão desrespeitados neste período que não aceitamos voltar sem ter esta discussão séria. A coisa tem que ser muito clara.
Uma questão que a categoria certamente não aceitará é suspender a greve e discutir depois. Nós temos que ter alguma coisa palpável na mão.
Folha - Numa greve como esta, vale apelar para a direita, como vocês fizeram, pedindo o apoio dos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Sarney (PMDB-AP)?
Spis - Não é uma questão de apelo. O movimento dos petroleiros passou a ser um problema nacional. Então o conjunto do Congresso tem que resolver a questão.

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