São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995 |
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Roteiro é arma de Bryan Singer em Cannes
LEON CAKOFF
Este é o segundo longa de Bryan Singer, um jovem de 27 anos. O primeiro foi ``Public Access", premiado no festival dos independentes americanos em Sundance e anulado pelo sucesso de ``Cães de Aluguel", do estreante Quentin Tarantino. ``The Usual Suspects" teve na última sexta-feira em Cannes o mesmo destino do primeiro filme de Tarantino: disputado pelas seleções da Quinzena dos Realizadores e da competição, acabou ficando na lista da seleção oficial de Cannes, mas fora da competição. Para um filme incendiário como ``The Usual Suspects", isso não tem importância. Ele é confessamente inspirado em ``O Segredo das Jóias" (The Asphalt Jungle), de John Huston, clássico ``noir". Mas lembra ``Cães de Aluguel". O segredo de Bryan Singer vem de New Jersey, quem diria, motivo de chacota de qualquer nova-iorquino metido. Chama-se Christopher McQuarrie. Ele é o roteirista dos dois longas desta nova revelação do cinema independente americano. McQuarrie e Singer estudaram juntos e já estão em fase de produção de um terceiro longa, inspirado num conto de Isaac Asimov. ``The Usual Suspects" é construído com artifícios de um quebra-cabeças. De nada serve a intuição ou perspicácia de qualquer espectador. O filme vai e volta numa ardilosa narrativa que sugere que a grande proeza do diabo é justamente convencer o mundo de que ele não existe. O que a polícia procura, depois de um atentado num porto da Califórnia, que resulta em muitos mortos, é um mítico personagem chamado Keyser Sse. O filme nada tem de politicamente correto. Usa qualquer argumento para despistar: venda de tecnologia nuclear ao Paquistão, traficantes argentinos, assassinos turcos e marinheiros húngaros. O diabo em pessoa parece que é multifacetado. ``The Usual Suspects" começa seis semanas antes da chacina no porto. Depois de uma denúncia anônima, cinco gângsteres são presos e interrogados pela polícia de Nova York, que busca pistas para o roubo de um carregamento de armas. O acaso acaba por uni-los para ações mais audaciosas. Como todo filme ``noir" que se preze, há uma narrativa na primeira pessoa. Quem narra é Roger ``Verbal" Kint, o personagem menos carismático e mais frouxo dos cinco bandidos. Quem o interroga é o agente Kujan (Chazz Palminteri). O carisma dos outros bandidos fica por conta de Gabriel Byrne, Stephen Baldwin, Kevin Pollak e Benicio del Toro. Ficção mais barata e ordinária impossível. Mas, sempre como Tarantino, o exercício do estilo é que faz a diferença... e esta é a nova marca da maldade. Texto Anterior: Honestidade não pede vigilância Próximo Texto: Folha distribui especial 'Os 10 Melhores Filmes' Índice |
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