São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Racismo à brasileira

A polêmica sobre a orientação sexual de Zumbi, que envolveu o Grupo Gay da Bahia e movimentos negros, traz à tona a militância contra as várias formas de discriminação que no Brasil persistem de modo mais ou menos dissimulado.
Na semana passada, o presidente do sindicato dos taxistas de São José do Rio Preto orientou seus filiados a não transportarem pessoas ``negras, homens de cabelo comprido", entre outros ``suspeitos", sem antes verificar seus documentos.
Foi uma revelação excepcional de um preconceito que de fato não é tão incomum. Normalmente, a discriminação fica como que submersa pela tremenda desigualdade socioeconômica. O racismo explícito é menos frequente. Na procura por emprego, por exemplo, mesmo quando a etnia influencia a seleção de funcionários, não se lê na entrada das empresas um aviso dizendo ``preferem-se brancos".
Mesmo que não recebam ordens nesse sentido, as forças de segurança têm, por hábito ou critério, os seus suspeitos habituais. Pobres, de modo geral. E negros são mais frequentemente pobres, já que no Brasil os brancos têm renda média 2,5 vezes maior que a dos negros.
O combate às várias formas de discriminação ainda tem muito a progredir no Brasil. Em várias partes do mundo, aliás, a igualdade de direitos é uma conquista bastante recente. As famosas lutas lideradas por Martin Luther King contra a segregação racial nos Estados Unidos, são fatos do início da década de 60.
Hoje, a Constituição brasileira veda qualquer tipo de discriminação. O direito de voto é dos mais amplos do planeta -incluindo analfabetos e maiores de 16 anos. Mas a situação real dos grupos sociais de menor influência é lastimável. Há um fosso entre os que são cidadãos apenas virtuais e os que de fato têm acesso a seus direitos, ao conhecimento, ao trabalho estável, aos bens da civilização moderna.
Além de manifestações explícitas de racismo, a desigualdade étnica, assim como outras, está implícita nas injustiças sociais. Trata-se de uma forma especialmente perversa de racismo, já que se mascara e se perpetua por detrás de uma enorme distância socioeconômica.

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