São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Coquetel de emergência

Depois de gastos com flores para a residência oficial do vice-presidente Marco Maciel, goiabada para a Presidência e presentes dados a autoridades estrangeiras por Fernando Henrique Cardoso em suas viagens internacionais, o governo paga um coquetel com verba do Fundo Social de Emergência. A recepção foi no Itamaraty, na semana passada, para inaugurar a mostra de obras de arte pertencentes ao empresário Roberto Marinho. O custo da festa, que não teve licitação, pagaria 4.000 consultas médicas na rede pública hospitalar.
Estranhamente, o governo alega que a despesa com o coquetel foi anterior à determinação de não utilizar recursos do Fundo Social de Emergência para esse tipo de gasto. Como se o FSE não tivesse sido criado para aplicação ``no custeio de ações do sistema de saúde e educação, benefícios previdenciários e auxílios assistenciais".
Enquanto o governo desvia dessas áreas parte da verba do FSE, o ministro Adib Jatene, da Saúde, às voltas com a falta crônica de recursos, pede o retorno do Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras. O IPMF, desta vez, seria destinado à sua pasta.
A proposta é polêmica, ainda mais em um país sobrecarregado de tributos. Mas, diante da urgência de injetar recursos nos hospitais públicos -e tentar impedir que pacientes continuem morrendo em decorrência do péssimo atendimento-, o imposto, desde que transitório, merece apoio, aliás já manifesto por esta Folha.
Com o mau uso das verbas do FSE, entretanto, não haverá credibilidade de ministro capaz de convencer a população da necessidade de mais esse imposto.

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