São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O governo está blefando?

GILBERTO DIMENSTEIN

O ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, disse ontem a esta coluna que vai pagar para ver -o governo, segundo ele, estaria disposto a enfrentar por ``tempo indefinido" a greve dos petroleiros. Blefe?
Não apenas ele, mas o presidente Fernando Henrique Cardoso e seus principais assessores temem a escassez de combustíveis, com uma eventual corrida por estocagem. Mas imaginam que o desgaste da greve vai atingir mais rápido os petroleiros do que os estoques.
O receio de ``colapso" foi transmitido a esta coluna pelo chefe do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho, também da linha do pagar para ver. As importações, segundo ele, teriam efeito limitado. Terrorismo para aumentar a irritação da opinião pública com os grevistas?
Entre possíveis blefes e terrorismos oficiais, tem-se um fato para quem quiser analisar essa greve: a greve é apenas um detalhe. A questão é maior, muito maior, do que uma disputa entre um presidente da República e petroleiros.
Fernando Henrique está convencido de que a derrota nessa queda-de-braço teria gigantescas implicações. Seria, na sua visão, um sinal de fraqueza do governo, capaz de abrir as porteiras para todos os tipos de reivindicações à ``direita" e à ``esquerda".
Desde que voltou dos Estados Unidos, o esforço do presidente foi mostrar que ele não está só no governo -também estaria no poder. Sabe que vai ser cutucado de todos os lados e precisa jogar duro.
Se, de um lado, existem os petroleiros, eletricitários, de outro estão os ruralistas ou empresários pedindo redução imediata na taxa de juros. Todas as pressões têm uma tradução simultânea: inflação.
Inflação também tem uma tradução política: fim de governo. Se com um índice de 2% por mês, a gritaria já é alta, imagine se bater nos 5%. Primeira consequência é a solene e inapelável despedida dos projetos de reeleição.
Segunda: Lula é ressuscitado como candidato presidencial. Isso se não acontecer coisa pior.
PS- Por falta de espaço, não pude fazer um elogio nesta coluna. Na semana passada, informou-se sobre a queda de mortes no trânsito em São Paulo, graças ao cinto de segurança. Nome do responsável: Paulo Maluf, a quem famílias passam a dever a vida de um pai, mulher, irmão ou filho.

Texto Anterior: O drama do goleiro
Próximo Texto: O sonho da razão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.