São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Preconceito cria dificuldades

DA REPORTAGEM LOCAL

A principal dificuldade na prevenção à violência doméstica é a ligação que se faz desse fenômenos com a pobreza e os distúrbios psicológicos. A conclusão é das pesquisadoras Maria Amélia Azevedo e Viviane de Azevedo Guerra, responsáveis pelo Laboratório de Estudos da Criança, da USP.
Segundo as pesquisadoras, a notificação dos casos de agressão é uma das maneiras de atacar o problema. ``Médicos e psicólogos ficam sabendo das ocorrências e acham que podem tratar somente no consultório. Essa mentalidade precisa ser alterada."
O laboratório da USP prepara cursos para capacitar profissionais das áreas de saúde, psicologia, assistência social e direito que trabalham com crianças vitimadas.
Segundo elas, todas as famílias, de todas as classes sociais, estão sujeitas à ocorrência de violência contra as crianças e adolescentes.
``As pessoas falam que o agressor ou é louco ou é bêbado e pobre. Não é verdade", diz Maria Amélia. Para ela, essa uma maneira encontrada pela sociedade para disfarçar essas ocorrências.
Fatores como estresse no trabalho e em família, a estrutura de poder patriarcal (concentrado no pai) e até o medo da Aids são apontados como detonadores de casos de violência.
``Há um pesquisador norte-americano que chegou à conclusão que alguns pais abusam sexualmente dos filhos para não correrem riscos de contrair Aids em relações extraconjugais", diz Maria Amélia.
A violência doméstica pode ser dividida em três tipos: física (castigos corporais), psicológica (humilhação ou ausência de afeto) e sexual (com atos ou voyeurismo).
Segundo Viviane, a violência física predomina nas classes sociais mais baixas, a psicológica, nas mais altas, e a sexual, em ambas.
Quando a criança é vitimada, dizem as pesquisadoras, ela não pode ser devolvida imediatamente para o lar. ``As pessoas têm a falsa idéia de que a família é uma instituição acima de qualquer suspeita", diz Viviane.
Ela afirma que a volta ao lar da criança vitimada pode provocar a ocorrência de suicídios ou assassinato -do pai ou do filho.

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