São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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`Seguro' cria metáfora óbvia sobre a Aids

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Todd Haynes, com ``Veneno" (Poison, 1991), foi fundamental para a explosão do chamado ``novo cinema gay" dentro da produção independente americana dos anos 90. Seu segundo longa-metragem era esperado com ansiedade. Demorou, mas chegou. Foi lançado ontem na mostra paralela Quinzena dos Realizadores. Chama-se ``Seguro" (Safe). Foi um anticlímax.
O universo inicial é similar ao de seu estranho e potente média-metragem ``Dotties Gets Spanked" (1993), feito para a televisão pública americana PBS. Los Angeles, bela casa, família entediada. Carol White (Julianne Moore, de ``Short Cuts") é dessas dondocas estressadas pelo cotidiano.
Redecoração da casa, aeróbica, novos regimes -são esses seus problemas. Seu marido Greg (Xander Berkley) é um bolha bonzinho, que transa mal mas não regateia presentes.
Carol começa a somatizar sua infelicidade. Desmaia, vomita e sangra sem razão aparente. Nenhum médico descobre nada. Um psiquiatra teoriza o óbvio. Um líder ``new age" vai trazer-lhe a luz. Carol é alérgica à sociedade industrial. Desenvolveu um distúrbio imunológico que a torna hipersensível aos produtos químicos. Deve se insular numa comunidade neo-hippie. Vira a garota do iglu de plástico. Recupera a paz, mas não estanca a degradação.
``Seguro" é uma metáfora óbvia sobre a AIDS. Atira também contra o espiritualismo de butique e os resquícios retrógrados da vida burguesa tradicional (isto é, pré-feminismo). Começa inquietante, evolui mal, termina previsível. A síndrome do segundo filme fez outra vítima.

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