São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Clientelismo escolar

O governo estadual do Ceará sancionou um projeto de lei que, apesar de polêmico, tem o mérito de tentar combater uma antiga prática local: preencher cargos de diretores de escolas públicas, sem concurso, levando em conta apenas interesses eleitoreiros do governador e de políticos a ele ligados. Agora, serão realizadas eleições nas comunidades escolares, incluindo pais de alunos, para escolher os novos diretores. Antes de concorrer, os candidatos vão ter de passar por uma avaliação para comprovar sua competência técnica.
Além da vantagem óbvia de tentar extirpar o clientelismo, a iniciativa pode contribuir para um maior envolvimento da comunidade escolar nas questões que lhe dizem respeito. Algumas experiências mostram que nas escolas em que os conselhos de pais e mestres são mais ativos, os índices de aprovação de alunos são mais altos.
A eleição pode propiciar ainda um maior debate na comunidade sobre problemas e soluções possíveis, pois presume-se que os candidatos a diretores apresentem programas ao eleitorado.
Por outro lado, em nome de uma suposta democratização da escola, corre-se o risco de transformar as salas de aula em tribuna de discurso político populista. Há sempre a perigosa possibilidade de ganhar a eleição o candidato que apresente plataforma de apelo demagógico e não necessariamente o candidato com maior competência para exercer a função. Outro problema seria a ausência, no projeto cearense, de um conselho que fiscalizasse a atuação dos diretores eleitos.
Embora a votação para diretor não seja exatamente uma novidade -existe há anos, por exemplo, em algumas localidades nos Estados Unidos-, educadores brasileiros ainda se mostram bastante divididos entre apoiar ou não a idéia.
De qualquer forma, afastar o critério político da escolha dos diretores já é um grande passo que, de resto, deveria ser dado nas unidades federativas em que as nomeações de diretores ainda obedecem a interesses clientelistas.

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