São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Economia do crioulo doido

GILBERTO DIMENSTEIN

Quem não leu e ainda não jogou fora o jornal deveria ler: a Folha publicou ontem artigo do economista André Lara Resende sobre os palpiteiros da economia que, na busca do sucesso fácil, engrossam modismos e lobbies.
É surpreendente como os empresários e economistas mudam de idéia com tanta rapidez -muitos dos economistas que, aliás, hoje estão no governo, jogaram no lixo textos que produziram, quando criticavam o regime militar.
Nos períodos de explosão de preços, cansei de ouvir de empresários e seus assessores: não se combate a inflação usando confete. Solenemente, sugeriam que o governo deveria jogar duro, ninguém faz regime tomando milk-shake e comendo batata frita.
Lembro-me das duríssimas críticas ao Plano Cruzado, quando, aliás, André Lara Resende estava no governo, instalado no Banco Central. Acusavam o governo (e com razão) de manter uma taxa baixíssima de juro. Previam (e mais uma vez com razão) que aquela moleza patrocinada por José Sarney demoliria o plano.
Veio o Plano Real e se alertou (também com razão): se o governo seguir a rota populista, vai repetir o Cruzado. Atingiram-se neste ano taxas extraordinárias de crescimento, complicaram-se as contas externas, em meio aos orçamentos públicos desajustados.
É usada a dureza pedida nos discursos e, agora, descobre-se que, afinal, juro alto segura a produção e cria problemas às empresas, obrigadas a vender menos. Há, aqui, uma empulhação: eles sabem que, nesse momento, é mentira manter crescimento acelerado e estabilidade de preços.
Se o governo cede, entra num círculo vicioso: inflação gera governo fraco, que, por ser fraco, não combate a inflação. Aprendi que, no final da linha, quem paga a conta é o trabalhador. Ganha o baronato e, por tabela, seus consultores, que fizeram do caos uma fonte de renda.
PS - Nos meus 12 anos de reportagem em Brasília, aprendi a desconfiar de algumas coisas. Duas delas: governo prometer e não cumprir prioridade social (FHC por enquanto não foge à regra) e choradeira de empresário.

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