São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O joio e o trigo

CARLOS HEITOR CONY

Alguns jornalistas estão sendo jogados na rua da amargura por terem pleiteado, junto ao INSS, a aposentadoria especial que a lei estabelece para determinados casos. Não há indecência no pleito, desde que o interessado prove que, realmente, foi prejudicado por opiniões que assumiu durante os anos de regime militar.
O Estado deve reparação a eles. É uma praxe internacional. O governo da Áustria paga, até hoje, em parcelas mensais, a indenização à minha sogra, cujo pai teve um café destruído em Viena, durante a anexação daquele país à Alemanha.
A questão é evitar que picaretas consigam fazer provas de perseguições inexistentes. Cabe ao INSS, através de seus canais competentes, apurar cada pleito. Se a Previdência não tem moral para isso, a culpa não é dos jornalistas, mas do governo, que nomeia os seus funcionários, do ministro para baixo.
Editorial de ``O Globo" afirma: ``É falso que jornalistas tenham sido privados de emprego por imposição do regime militar". Mas diz que determinado profissional ``só começou a trabalhar na imprensa em 1980, quando não mais havia qualquer dificuldade para o exercício da profissão". De 1964 a 1980 são 16 anos.
Os jornalistas não são culpados pela corrupção na Previdência. Quem manda no INSS é FHC, desde que assumiu a Fazenda, dois anos atrás. O rigor na apuração de cada caso evitará o abuso e fará justiça a quem foi prejudicado pelo regime de arbítrio.
Não vou citar nomes. Mas no meio profissional os verdadeiros prejudicados são conhecidos. Os picaretas também. Para que não me atribuam interesse pessoal, informo que não pleiteei aposentadoria especial. O livro de Nelson Werneck Sodré, ``História da Imprensa Brasileira", relata o meu caso no ``Correio da Manhã". Na sua autobiografia (``O Campeão de Audiência"), Walter Clark conta como o coronel Gustavo Borges o obrigou a me afastar da TV Rio.
Violências iguais foram sofridas por outros jornalistas, mais brilhantes por sinal. Que eles sejam separados dos oportunistas e vigaristas.

Texto Anterior: Economia do crioulo doido
Próximo Texto: Que política monetária é essa?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.