São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Ciro diz que juros altos prejudicam as reformas

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de prejudicar o Real e paralisar a atividade econômica, a política de juros do governo arranha a legitimidade que o presidente necessita para as reformas.
A opinião é de Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda. Estudante visitante da Universidade Harvard, nos EUA, Ciro está em São Paulo para um debate no Ministério Público.
Ciro embarca hoje para Bangladesh para conhecer o ``Banco dos Pobres", como observador convidado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A seguir os principais trechos da entrevista à Folha:

Folha - Como o senhor avalia a política de juros do governo?
Ciro Gomes - Isso é um remédio de efeitos colaterais terríveis. Enquanto o país não tem equilíbrio nas contas públicas, enquanto o país não estabiliza essa questão do câmbio, só se sustenta com coisas amargas como essa, que paralisam a atividade econômica. Aí, então, não tem inflação.
Eu não estou querendo dizer que, se eu estivesse lá, faria diferente. Quem está lá é que sabe. Mas é aquele tipo de remédio de efeito colateral rapidamente deletério (prejudicial).
Folha - Como assim?
Gomes - Provoca recessão. E recessão provoca queda da arrecadação, provoca desemprego, provoca perda de legitimidade do governo, que precisa de toda força do mundo nesse momento para encaminhar as reformas, o que só vai acontecer se tiver a opinião pública do lado pressionando.
É um momento dramático, e todos nós devemos pedir ao Congresso velocidade nas reformas estruturais, que possibilitarão ao país retomar, em bases sustentáveis, o crescimento econômico.
Folha - É, então, uma política prejudicial ao Real?
Gomes - Claro. Acaba com tudo. É um remédio destrutivo se não for prescrito com doses muito bem-administradas. É uma questão de prazo.
Folha - Já passou esse prazo?
Gomes - Tá pertinho.
Folha - Quem ganha com essa política de juros altos?
Gomes - Os bancos.
Folha - A equipe econômica já fala a mesma língua?
Gomes - Não. Não se explicita isso, mas todo mundo sabe que há uma divergência de fundo aguardando uma magistratura do presidente.
Folha - Essa divergência se expressa...
Gomes - Eu não vou falar em pessoas porque isso é mesquinho.

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