São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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`Teles' passa na Câmara; cresce resistência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara aprovou ontem, em primeira votação, a emenda que quebra o monopólio estatal da telecomunicações. A proposta obteve 348 a favor e 140 contra. Houve cinco abstenções. A votação, que terminou às 19h20, contou com a presença de 493 deputados, o maior quórum desde o início das reformas.
Ontem foi o dia em que houve mais votos contrários à emenda de um relator desde o início das votações na Câmara.
Houve 110 votos contra a emenda da cabotagem e 8 contra a emenda do gás no primeiro turno. Já a segunda votação do gás contou com 53 votos contra o governo. A emenda da empresa nacional não foi referendada por 103 deputados no primeiro turno e 105 no segundo. Ontem, os votos contra o governo saltaram para 140.
Parlamentares da base governista temem que o número de rebeldes cresça quando for votada a emenda que quebra o monopólio da Petrobrás na exploração do petróleo. Quarenta e quatro deputados dos partidos aliados votaram contra a quebra do monopólio.

Mudança
A oposição conseguiu alterar um trecho da emenda, incluindo o setor de radiodifusão na regulamentação que será feita pelo Congresso. A emenda previa a criação de um órgão regulador somente para os serviços de telecomunicações, deixando de fora rádio e TV. A sessão da Câmara para aprovação da emenda durou mais de dez horas. O discurso de Paulo Heslander (PTB-MG), contra a quebra do monopólio, foi saudado pelos deputados de oposição com gritos de ``Brasil, Brasil".
Eles portavam quatro bandeiras do Brasil. Os parlamentares do PT, PDT, PSB e PC do B também gritaram ``quibe, quibe" quando o deputado Paulo Cordeiro (PTB-PR) discursou.
Segundo Heslander, Cordeiro foi um dos participantes da ``quibada" patrocinada pelo Unibanco e pela Odebrecht, reunião na qual dezenas de parlamentares assistiram a uma palestra em defesa da quebra do monopólio.
O discurso do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), relator da emenda, foi vaiado pelos oposicionistas, que gritaram ``CPI, CPI". Geddel foi um dos parlamentares investigados pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Orçamento no ano passado. Ele foi absolvido.

Chantagem
Durante o dia, os governistas tiveram que debelar três ameaças de rebelião: do PMDB, da bancada ruralista e do chamado Bloco Parlamentar da Amazônia Legal.
Na noite de terça-feira, o deputado José Priante (PMDB-PA), coordenador da bancada amazônica, chegou a pregar o voto contrário à emenda por causa do suposto ``descaso" do governo em relação à sua região.
Ontem, Priante recuou e disse que acompanharia o voto de seu partido. Para marcar posição, porém, apresentou um requerimento para retirar a emenda de pauta, que acabou derrotado por 287 a 147, com seis abstenções.
Insatisfeitos com o impasse nas negociações sobre a correção das dívidas agrícolas, os líderes ruralistas se reuniram à tarde para decidir uma possível retaliação ao governo na votação de ontem.
``Decidimos votar com o governo hoje, mas, no segundo turno, votaremos contra se não houver uma solução para o setor", disse o deputado Augusto Nardes (PPR-RS), um dos líderes da Frente Parlamentar da Agricultura, que congrega os ruralistas.

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