São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Arida anuncia que juros não mudam

LUÍS NASSIF

Bastaram algumas contas para o boletim ``Fax Tesouraria", da Agência Dinheiro Vivo, concluir que, na reunião de antes de ontem com deputados, o presidente do Banco Central Pérsio Arida anunciou que os juros não irão cair -o oposto do que foi entendido.
O presidente do BC valeu-se da falta de conhecimento técnico dos deputados para levá-los na conversa.
Seu anúncio é de que os mercados futuros estariam sinalizando para o próximo mês a queda dos juros básicos, de 4,24% para 4,04% ao mês.
A conta do mercado não significa nenhuma previsão de juros menores. Atualmente, o BC mantém a taxa de juros em 5,66% (ou 0,189% ao dia). Maio tem 22 dias úteis. Acumulada, essa taxa vai significar 4,24% no mês. Junho tem um dia útil a menos. Por isso, a taxa será de 4,04% -que corresponde à mesma taxa de maio.
Não é a primeira vez que Arida recorre a sofismas em defesa dessa maluquice.
O primeiro sofisma foi valer-se de truques matemáticos. O segundo foi considerar que haveria relação entre a taxa básica -com a qual o governo remunera seus títulos- e o custo do dinheiro para o tomador final -o grande fator atual de estrangulamento da economia.
Não existe crédito disponível na praça. E, quando existe, cobram-se de 10% a 14% ao mês. Em três meses, essas taxas aumentam em 50% a dívida do infeliz. Essas taxas estão incidindo sobre uma economia que, desde janeiro, passara a recorrer pesadamente a endividamento bancário. É quase uma sentença de morte.
Piscina rasa
Há figuras públicas que se comprazem em demonstrar diariamente seu bom coração, chorando pelas criancinhas do Brasil. Com tal insistência que parece que a grande função das criancinhas na miséria é permitir a eles mostrar seus bons sentimentos. E não se tem um pingo de discernimento para entender as relações de causa e efeito entre esses planos econômicos, taxas de juros e aumento da miséria no país.
Acreditam que miséria é causada por um demônio malvado, sem nome e sem RG; que empreiteiras se tornam boazinhas porque doam dinheiro de jabás para obras de caridade; e economistas financeiros aumentam as taxas de juros para poder arrecadar mais para obras sociais.
Um mínimo de profundidade na análise não mata ninguém afogado e faria mais pela miséria do que a pieguice reiterada.
Cadáver
Se houver mortos nessa história, é engano de Lula julgar que seu sangue recairá sobre a Presidência da República. A conta irá para o seu inventário.

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