São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Exposição lembra Geração de 45 no Sesc

DA REPORTAGEM LOCAL

Exposição: Geração de 45 - 50 anos
Seleção: Mario Chamie
Projeto gráfico: Emilie Chamie
Onde: Sesc Consolação (r. dr. Vila Nova, 245, tel. 011/256-2322, Consolação, região central)
Quando: abertura hoje, às 19h; até 24 de junho
Visitação: de segunda a sexta, das 13h30 às 21h30; sábado, das 9h30 às 17h30
Entrada: franca

Tem abertura hoje no Sesc Consolação, em São Paulo, uma exposição que comemora os 50 anos da Geração de 45. A seleção do material foi feita pelo poeta Mario Chamie e o projeto gráfico, pela designer Emilie Chamie.
``Geração de 45 - 50 Anos" reúne painéis com poemas, fotos, ilustrações e comentários referentes ao grupo literário que reuniu, entre outros, os poetas João Cabral de Melo Neto, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Lêdo Ivo, Geraldo Vidigal, Domingos Carvalho da Silva, Bueno Rivera e outros.
Essa geração propunha, sob influência das idéias do poeta e crítico Mário de Andrade (1893-1945) no final da vida, uma maior elaboração formal e um distanciamento do nacionalismo, em contraposição ao modernismo.
O tom elevado, o uso prevalecente de metáforas, a adoção de formas clássicas (como o soneto) são características dessa poesia.
Chamie observa que ela hoje pode parecer ``retórica, quase neoparnasiana", porque lembra o formalismo pregado pelos parnasianos do final do século passado, mas que na época em que surgiu foi considerada por críticos como Tristão de Athayde uma ``nova fase do modernismo".
``Eles foram contra o despojamento modernista, contra a facilidade de certos métodos poéticos como os versos livres, contra o lirismo", diz Chamie. ``Começaram a falar em autonomia do poema, o que influenciou muito a poesia posterior."
O papel de influência cultural da geração é o que Chamie mais quer ressaltar na exposição, que diz ser uma ``memorização sintética" do grupo, não um estudo.
``Com a disposição gráfica dos painéis, você pode ler só os poemas, que estão em vermelho, tendo uma antologia representativa da produção do período", diz.
``Ou pode ler os comentários, em preto, que formam uma fortuna crítica. Ou prestar atenção nas ilustrações, que eles valorizavam muito num livro. Há um pouco de tudo, mostrando como eles agitaram a cultura naqueles anos."
O grupo editava revistas, como a do Clube da Poesia, existente até hoje. Foi o Clube que teve a iniciativa de fazer a exposição e forneceu o material ao Sesc.
``Eles eram muito ativos no ensaio e na tradução, o que a geração seguinte iria praticar com grande ênfase", nota Chamie. ``Traduziram grandes poetas como Paul Valéry, Rainer Maria Rilke e Ezra Pound e críticos como I.A. Richards e William Empson."
O movimento foi muito polêmico entre a crítica. Antonio Candido o considera uma reação ao modernismo que não reconhecia o quanto lhe devia. Alfredo Bosi acha que foi importante por ter combatido certo ``irracionalismo" do modernismo nascido em 1922.
João Cabral, que Chamie julga ``o maior poeta nascido do movimento", diz em texto que a Geração de 45 pretendia mais uma ``ampliação das conquistas" do que a ``invenção de caminhos".
A exposição reforça esse papel cultural com gravações de poemas, lidos pelo ator Luís Melo, de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima e outros que, diz Chamie, ``de alguma maneira se deixaram influenciar pela Geração de 45".

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