São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Sinais contraditórios

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Fica difícil entender qual é o sinal que o governo quer emitir com a intervenção militar em quatro refinarias. É para endurecer de uma vez? Que se assuma, então, o ônus decorrente. Mas o endurecimento não combina com o pronunciamento do ministro Raimundo Brito (Minas e Energia).
O ministro disse, com razão, que, com a greve, ``perdemos todos". E pediu diálogo como forma de solução para o impasse.
Não dá para conciliar o tom do discurso com as imagens que a TV exibia, quase simultaneamente, de veículos militares rompendo a madrugada na direção das refinarias.
Essa imagem, por si só, dá uma conotação negativa aos episódios de ontem. Mas convém não exagerar e enxergar na ocupação das refinarias um retorno aos velhos tempos do ciclo militar ou uma repetição de Volta Redonda, em 1988, quando três operários foram mortos.
Já está na hora de o Brasil tentar raciocinar menos com o fígado e com a memória de tempos obscuros e mais com o cérebro, afinal o único instrumento apto a de fato fazê-lo.
Ainda assim, o sabor amargo permanece, dado o acúmulo de erros praticados pelas partes. Os petroleiros continuam tentando desafiar uma decisão judicial, o que é inaceitável. Pode-se achar o que se quiser da Justiça do Trabalho, mas é a única disponível. Não dá para importar algum personagem da ``Operação Mãos Limpas" italiana e pedir que seja ele quem julgue o caso.
Já o governo errou várias vezes. Primeiro, ao não reconhecer o acordo feito com os petroleiros pelo seu antecessor, do qual parece só se achar uma continuidade quando convém. Depois, ao avaliar mal o ânimo dos petroleiros e acreditar em uma greve de curta duração.
Por fim, ao acenar timidamente com o diálogo enquanto usa força militar. A Folha informou anteontem que o presidente acha que, se ceder, seu governo estará acabado. Engano. A característica central da personalidade de FHC é a conciliação, não a dureza. Se a utilizar, não estará acabado. Estará sendo coerente, o que pode ser novidade em um governante, mas não é crime.

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