São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Fomos incompetentes

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Péssimo desfecho -e o menos importante, agora, é apontar o responsável pela triste cena de militares ocupando refinarias como se estivéssemos em guerra. O fato: a disputa governo versus CUT sinaliza a incompetência civil produzindo intervenção militar.
Prosseguia ontem a troca de acusações entre Palácio do Planalto e sindicalistas. O governo ataca a CUT por estimular o impasse, promover um movimento ``irresponsável", usando métodos ``condenáveis" para evitar a volta ao trabalho.
Os petroleiros dizem-se traídos por um acordo salarial não cumprido e denunciam a ``truculência" da ocupação militar. Tentam fazer paralelos entre o atual governo e a ditadura militar. E por aí vai.
Esse bate-boca é uma bobagem; como também é uma bobagem saber quem ganha ou perde com essa greve. Sério mesmo é que, passados dez anos do retorno dos civis ao poder, eleitos diretamente dois presidentes da República, convocada uma Constituinte, ainda não aprendemos a superar impasses pacificamente.
A oposição ao regime militar alardeava que, quando os civis chegassem ao poder, a palavra e a lei seriam suficientes para resolver conflitos -esse simples princípio juntou nos palanques os mais diversos tipos de pessoas, de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva.
Os homens sérios desse país deveriam extrair desse episódio um motivo de reflexão sobre como, apesar de todos os avanços (e são notáveis), ainda temos muito a aprender.
PS - Milagre no Congresso. Descobrimos ontem emendas exatamente com o mesmo texto sobre o exame final aos alunos de curso superior. Apesar da autoria diferente, todas as palavras e vírgulas são iguais. Não há uma única modificação. Pelo menos três deputados garantem que são autores das emenda. Duas hipóteses: 1) estamos diante de uma das mais fantásticas coincidências já produzidas na face da terra; 2) ou flagrou-se um lobby. Como conheço um pouco o Congresso, estou levemente inclinado a considerar a segunda hipótese.

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