São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995 |
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Pianista tcheco mostra gênio de Beethoven
WILLIAM LI
Onde: Teatro Municipal (pça Ramos de Azevedo, s/nº) Quando: hoje, às 20h30, domingo, às 10h30, dia 2, às 20h30, e dia 4, às 10h30 Quanto: R$ 1 a R$ 5 O pianista tcheco Rudolf Buchbinder, considerado o maior intérprete de Beethoven da atualidade, estréia hoje no Teatro Municipal uma série de quatro concertos e recitais que ele apresentará até o dia 4 de junho. Esta é a sétima vez que ele vem ao Brasil (a primeira foi em 1965). Rudolf Buchbinder é um dos pianistas mais disputados das salas de concerto de todo o mundo e sempre foi considerado um gênio do teclado. Nascido em Leimeritz, mudou-se logo para a Áustria, onde passou a infância. Aos cinco anos, já surpreendia os seus mestres e, aos dez, já se apresentava na exclusiva sala do Musikverein de Viena. Em seguida, foi estudar com o grande Bruno Seidlhofer, na Academia de Música de Viena, onde tornou-se amigo do pianista brasileiro Nelson Freire. Já gravou mais de 50 discos e CDs, entre os quais destacam-se o ciclo integral das sonatas de Beethoven e toda a obra para piano de Haydn, gravações que lhe valeram o ``Grand Prix du Disque" em 1976. Em entrevista à Folha, Buchbinder falou por telefone, de Viena, a respeito da obra de Beethoven e de suas impressões sobre o Brasil e a música brasileira. ``Eu adoro o Brasil, senão não iria aí com tanta frequência", declara. Quanto a Beethoven, diz: ``Eu vivo Beethoven, ele faz parte de mim". Para Buchbinder, o compositor destaca-se por suas 32 sonatas para piano, que são como seu diário íntimo. Ele afirmou conhecer pouco a música brasileira. ``Gosto muito de Villa-Lobos e já vi uma ópera de Carlos Gomes na Itália, mas é só. Gosto de samba também." Com relação à afirmação de Beethoven de que a música seria a mais alta forma de revelação, comenta: ``A música é uma linguagem universal que mexe imediatamente com as emoções e sentimentos íntimos das pessoas. Tanto em Nova York como em Tóquio ou Paris é a mesma linguagem no mundo inteiro. Além disso, uma peça pode ser abordada de inúmeras maneiras, de forma que o repertório erudito nunca envelhece". Para sua estréia no Municipal, Buchbinder escolheu o ``Concerto para Piano e Orquestra nº 4 em Sol Maior op. 58", de Beethoven. Este concerto é contemporâneo da ``Sonata Appassionata" op. 57. Mas, ao contrário desta, que é angustiante, agitada e febril, o ``Concerto nº 4" é equilibrado, contido, quase clássico. Foi composto por volta de 1805 e estreou em março de 1807 num concerto para convidados no palácio do príncipe Lobkowitz em Viena. O próprio Beethoven foi o solista. O concerto foi publicado em 1808 com uma dedicatória a seu amigo e protetor, o arquiduque Rudolph da Áustria, que também era seu aluno de piano. Fica claro, neste quarto concerto, que Beethoven está à procura do equilíbrio dos concertos de Mozart, que toma como exemplo. Seu célebre segundo movimento, um ``Andante" que se constitui como um diálogo entre o piano e as cordas, sugeriu a Schumann a cena de Orfeu dominando os animais com sua lira. Naquele mesmo concerto do príncipe Lobkowitz, estreou também a abertura ``Coriolano" op. 62, que também será apresentada hoje, no Municipal. ``Coriolano" foi escrita para a peça de Heinrich von Collin. Em vez do herói de Plutarco ou Shakespeare, o Coriolano de von Collin é mais romano: ele prefere a morte. Finalmente, o pianista tocará a ``Sinfonia nº 9" de Schubert (1797-1828). Schubert foi contemporâneo de Beethoven, mas já é totalmente romântico pela sua participação no movimento ``Sturm und Drang". Conhecido sobretudo por seus ``lieder", sua obra sinfônica caracteriza-se por uma decisiva adesão ao romantismo e uma certa originalidade em face do titânico Beethoven. Texto Anterior: CD promove culto necrófilo Próximo Texto: Olodum lança `Filhos do Sol' com show gratuito no Anhangabaú Índice |
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