São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Orquestra impõe valsa no país da timbalada

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A Orquestra Johann Strauss de Viena estreou anteontem no teatro Castro Alves em Salvador sua turnê brasileira com bom sucesso.
O público obrigou os 42 músicos a fazerem quatro bises e acompanhou os números com palmas, regido pelo jocoso maestro convidado, Franz Bauer-Theussl.
A orquestra percorre outras cinco cidades do Brasil, dentro da série Concertos de Vinólia, que desembolsou R$ 1,5 milhão para trazer os músicos ao país. Hoje e amanhã, toca no Rio, domingo e segunda, em São Paulo.
Apresenta-se gratuitamente ao ar livre no Parque Ibirapuera no próximo domingo, a partir das 11h, e um concerto no Teatro Municipal na segunda.
Terça, o Municipal abrigará um concerto fechado. Oito bailarinos trajados ao estilo biedermeier simularão um baile vienense.
Repertório
O repertório é o esperado: Strauss, sempre Strauss, símbolo de uma Viena oitocentista e despreocupada. A se contar com o exemplo da Bahia, o espetáculo será divertido.
Teve duas horas de duração, durante as quais os embaixadores da música austríaca não tiveram problemas em impor o programa de valsas, polcas e marchas na terra da timbalada e do samba-reggae.
O público lotou o teatro, com capacidade para 1.554 pessoas, e adorou a sucessão de brilho timbrístico, ritmos festivos e efeitos especiais com cucos, buzinas e ruídos de pássaros.
A Johann Strauss não deve ser tomada por uma orquestra erudita. Pratica um repertório popular e descompromissado. Quer transmitir alegria ao público.
A música da família Strauss não se deixou afetar por conflitos de nenhuma espécie. A orquestra reflete tal fantasia. Toca descontraída e só por isso vale assisti-la.
A maior parte das orquestras costuma exibir tensão. A J.S. acaricia a platéia. É um conjunto de boa qualidade, sem qualquer laivo de ousadia. Toca o que sabe.
Ninguém, senão ele, consegue executar valsas com os arranjos e a rítmica original. Mantém uma tradição iniciada em 1825 por Johann Strauss, pai, quando este fundou o primeiro núcleo da orquestra.
O programa de Salvador vai se repetir no Ibirapuera. São 15 músicas, tendo por final a valsa ``O Danúblio Azul" no arranjo para o qual foi composta, em 1867.
Apesar do sopro claudicante do trompista, a orquestra se saiu bem na interpretação das síncopes e rubatos característicos da valsa vienense. Neste aspecto, é inimitável. Há uma ``roubada" de ritmos e silêncios que só ela parece capaz de produzir.
Não custa lembrar que gêneros populares como ragtime, tango e maxixe sorveram a cadência sincopada, a percussão ostensiva e os arranjos no estilo singular dos Strauss.
Pela primeira vez no país, essa orquestra típica lembra o mito da origem da música popular brasileira.

Concerto: Orquestra Johann Strauss
Quando: hoje, às 21h, no teatro Municipal do Rio, amanhã, às 17h, na praia de Ipanema, domingo, às 11h, na Praça da Paz do Parque Ibirapuera, segunda, às 21h, no Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/nº, tel. 011/223-3022)
Preço: grátis (concertos ao ar livre); no Municipal do Rio, de R$ 25,00 a R$ 60,00; no Municipal de São Paulo, de R$ 10,00 a R$ 60,00

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