São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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A etiqueta da Abril

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

O que restou da revista ``Veja" tentou atingir a Folha ao me atacar na edição do domingo passado. O ataque não deixa de ter alguma utilidade, porque me dá oportunidade de deixar claros alguns pontos importantes.
No capítulo independência, o grupo Abril tem mais débito do que crédito. Fica engraçado querer transformar-se em agência de cobrança -indevida- alheia.
No capítulo editorial, é notório que o momento delicado que atravessa o grupo atingiu a qualidade das suas publicações.
Portanto, é compreensível que o grupo Abril se prenda, internamente, a um conjunto de etiquetas para resguardar as aparências externas.
O que não é compreensível -e até mesmo suspeito- é que ele resolva cobrar de terceiros -sem razão- aquilo que lhe falta.
Na Abril, a revista ``Veja" é um capítulo à parte, tal o seu nível de degradação editorial e ética.
As entrevistas da ``Veja" são farsas. Não participo delas por princípio.
Falei, rapidamente e em tom pessoal, com uma jornalista que respeitava (e que se confessava ``constrangida" em me entrevistar sobre o assunto), deixando claro que não daria declarações para a revista ``Veja" -que, sem o menor constrangimento, escreveu que concedi uma entrevista a ela.
Não satisfeita em ignorar o que ouve, a revista ``Veja" passou a deturpar também o que lê. Em nenhum momento das minhas reportagens enviadas para a Folha, teci comentários sobre a Fiat brasileira.
Mas o que a revista ``Veja" omitiu é que eu usei a mesma viagem não só para enviar textos para a Folha, mas, também, colaborações jornalísticas para a TVA, que, aliás, ainda pertence à Abril.
No capítulo viagens, o ``Novo Manual da Redação" da Folha é claro sobre os procedimentos a serem adotados. Ele diz: ``Viagem - A Folha incentiva a realização de viagens pelo jornalista. Quando ela ocorrer a convite e resultar em reportagem, deve ser mencionada ao final do texto a identidade do patrocinador".
Minha viagem está rigorosamente dentro dos princípios estabelecidos pela Folha.
Todos os meus acertos e desacertos, aos olhos dos meus amigos e dos meus inimigos, estão assinados. Assumo, para o bem ou para o mal, tudo o que escrevo.
Ao contrário, a covardia do diretor da ``Veja" Mário Sérgio Conti se oculta no pântano obscuro das agressões não-assinadas.
Ele tem horror à luminosidade dignificante das responsabilidades assumidas (nem quando flagrado em delito, como no caso da tentativa de faturar com a morte de Ayrton Senna, ele assume as falcatruas jornalísticas que comete).
Nossas trajetórias são diferentes e falam por si mesmas: eu participo, com alegria, do processo de crescimento, de inovação jornalística e de independência da Folha.
Já a sua gestão na ``Veja" patina ressentidamente na lama obscura da decadência editorial e da perda de prestígio da revista, desde que os jornalistas José Roberto Guzzo e Elio Gaspari saíram de lá.

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