São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Governo quer limitar crescimento a 5%

VIVALDO DE SOUSA; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo poderá aprofundar ainda mais as medidas de contenção do crescimento econômico se as providências já tomadas não surtirem o efeito desejado. A meta é fazer o PIB (Produto Interno Bruto) não crescer além dos 5% em 1995, bem abaixo dos 10% verificados no primeiro trimestre.
O PIB é a soma de tudo que é produzido no país. Na avaliação da equipe econômica, ainda existe boa margem para segurar o crescimento econômico sem causar recessão.
Por enquanto, a avaliação é de que não são necessárias novas medidas para conter o crédito.
O crescimento de 10% no primeiro trimestre foi registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O que desejamos é evitar crescer numa velocidade excessiva", disse à Folha José Cechin, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, considera que não se pode falar em recessão no país. Em reunião na semana passada com representantes da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), ele disse que a produção industrial cresceu 15% e as vendas 30% no primeiro trimestre deste ano.
``Ainda estamos numa velocidade alta. O governo adotou diversas medidas para que possamos seguir numa velocidade segura para o plano de estabilização", afirmou Cechin. Segundo ele, o governo ``não quer" recessão econômica.
Outro exemplo citado pelo governo para tentar mostrar que não há recessão é o saldo médio diário das consultas ao SPC (Sistema de Proteção ao Crédito) e ao telecheque, que subiram 5,3% nos 17 primeiros dias de maio em relação ao mesmo período de abril.
A avaliação do governo é que as medidas de contenção ao crédito já estão dando resultados. As instituições financeiras ficaram mais seletivas na concessão de empréstimos e reduziram a capacidade de endividamento dos clientes.
O setor de automóveis, por exemplo, um dos que mais cresceu nos últimos anos, está prevendo uma redução daqui para frente. O presidente da Fiat, Silvano Valentino, disse em Brasília na última quinta-feira que a expansão do setor nos primeiros quatro meses deste ano foi de 5% em relação ao mesmo período de 1994.
Segundo Valentino, daqui para frente o quadro vai mudar. ``Já estamos iniciando um período de declínio desse nível de expansão", afirmou o presidente da Fiat e da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Na opinião de consultores e economistas, esse ``declínio" agora detectado poderá, nos próximos meses, se transformar em crescimento negativo -o que caracterizaria uma situação, ao menos parcial, de recessão.
Com relação à taxa de juros, que tem provocado reações em diversos setores do empresariado, o governo diz que já trabalha com a idéia de uma redução -o que ainda não aconteceu. Mas nada será feito sem que haja certeza de desaquecimento da economia -a redução dos juros poderia provocar novo aumento do consumo e, consequentemente, estimular a inflação.
As reclamações feitas pelo comércio e pela indústria contra a política de juros altos são consideradas exageradas pelo governo.
A Folha apurou que a avaliação da equipe econômica é que algumas empresas estão enfrentando problemas localizados porque esperavam vender mais do que efetivamente conseguiram colocar no mercado.
A equipe econômica enfrenta nesses dias uma dificuldade adicional de avaliação do ritmo da economia: saber até que ponto a greve dos petroleiros, que causou problemas de abastecimento de gás natural e óleo diesel para setores da indústria, contribui para os sinais de queda da atividade.

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