São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Economia argentina dá sinais de recessão

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Argentina, ponto de referência vizinho para a economia brasileira, está em recessão. O desemprego chega a 20% no interior. A produção de automóveis caiu 38% nos últimos doze meses. O número de concordatas cresceu 114% nos primeiros quatro meses em relação ao mesmo período do ano passado. Somente o governo não reconhece publicamente os sinais da queda da atividade econômica. O presidente Carlos Menem ganhou um segundo mandato nas eleições de 14 de maio com uma plataforma que teve como ponto básico a criação de 350 mil novos empregos ao ano.
Ele toma posse em 8 de junho com uma nova estrutura ministerial. Coincidentemente, será implantado o Ministério do Emprego, ao lado da pasta de Desenvolvimento Social.
O ministro da Economia, Domingo Cavallo, não se rende nem mesmo aos índices divulgados recentemente, mostrando que metade da indústria automobilística argentina está paralisada. Além disso, a arrecadação de impostos caiu 20% nos primeiros quatro meses do ano.
A Adefa (Associação de Fábricas de Automotores) estima que o setor encerrará o ano de 95 com uma redução superior a 20% na produção de veículos.
A montadoras Ciadea (Renault) e Sevel (Fiat) já suspenderam a produção por período de 10 a 15 dias, afetando 5 mil trabalhadores. Outras cortaram horas extras.
Miguel Angel Broda, um dos principais consultores de empresas do país, aposta na continuidade dos ``recordes de concordatas e quebras, mais desemprego e um nível de atividade entre 1% e 3%".
Pela primeira vez, Broda traça um diagnóstico semelhante ao do economista Roberto Frenkel, diretor do Centro de Estudos de Estado e Sociedade. Frenkel é conhecidamente um opositor da política de Cavallo.
Frenkel disse à Folha que o modelo econômico do menemismo ``está se esgotando" e que a ``Argentina passará por momentos difíceis", como aumento de desemprego, quebra de empresas e também de bancos.
Até mesmo as entidades empresariais que apoiaram a reeleição de Menem cobram medidas do governo para reduzir o impacto da recessão sobre as vendas.
O presidente da UIA (União Industrial Argentina), Jorge Blanco Villegas, reivindica uma rápida reforma no sistema financeiro para normalizar o crédito e recuperar o ingresso de capital estrangeiro.
O presidente da Bolsa de Valores de Buenos Aires, Julio Machi, não prevê uma solução imediata para a recessão.
As estatísticas da Câmara Argentina de Comércio revelam o aprofundamento da recessão: no primeiro quadrimestre de 95, as vendas de eletrodomésticos despencaram em 40%, o movimento de bares e restaurantes caiu 30% e os supermercados registram uma diminuição de até 10% no faturamento.
Dados reservados do Indec (Instituto de Investigação e Censo), vinculado ao Ministério da Economia, projetam que o desemprego deverá atingir 15% até o final do ano, contingente de 4 milhões de desempregados e subocupados.
Nas províncias do norte do país, o índice de desemprego já rondaria a marca de 20%.
Até agora, Menem conseguiu minimizar o movimento sindical através de injeções de recursos para as principais centrais sindicais. Somente o CTA (Congresso dos Trabalhadores Argentinos), dirigido Victor De Gennaro, faz oposição ao governo. Ele diz que ``A política econômica destruiu o setor produtivo".

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