São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995 |
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Murici abriga `viúvas de maridos vivos'
ARI CIPOLA
Até o final de junho, cerca de 4.000 trabalhadores deixarão a cidade para cortar cana, por seis meses, em lavouras do Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Murici é a cidade natal do senador Renan Calheiros (PMDB) e do empresário Paulo César Farias. A reportagem da Agência Folha acompanhou, em 12 de maio, o embarque de 491 trabalhadores de Murici para o Espírito Santo, em 11 ônibus fretados por uma destilaria capixaba. Os lavradores estavam deixando a cidade para ganhar R$ 0,90 por tonelada de cana cortada no Espírito Santo. Até fevereiro, eles ganhavam R$ 1,30 em Alagoas. Mas acreditam que poderão ganhar até dois salários mínimos por mês no sudeste do país. João Heleno da Silva, 49, é morador desde 1966 na fazenda Boa Vista, da usina Bititinga. A usina, que produziu nesta última safra 4.300 toneladas de açúcar -só 10% de sua capacidade-, foi comprada há dois anos pela família pernambucana Coimbra, do ex-ministro Ricardo Fiuza. Ela fechou em março último por falência. No dia 10 de maio, Heleno assistia indignado à demolição da vila onde mora. Restavam apenas quatro casas de um total de 35. Ao lado de sua casa, feita de tijolos, rebocada e com luz e água encanada, trabalhadores da usina demoliam a casa de seu compadre. ``Eles não podem se identificar, senão serão demitidos. Eu não tenho medo de ir contra essa barbaridade", afirmou Heleno, referindo-se aos três homens que demoliam a casa de seus vizinhos e que não quiseram dizer seus nomes à reportagem da Agência Folha. A demolição das casas da Bititinga e da usina São Simeão, também próxima a Murici, é a atual preocupação do prefeito Glauber Tenório (PSDB), 40. Como prefeito, Tenório está tentando impedir que cerca de 700 casas das duas usinas que estão desocupadas sejam derrubadas. ``Estou negociando para conseguir a doação de casas e terrenos para a prefeitura. Já estamos alimentando 1.535 famílias demitidas no campo, que estão morando em cubículos na periferia", afirmou. Como membro de uma família de produtores de cana, Tenório já autorizou a derrubada de 300 das 400 casas de sua propriedade. Texto Anterior: Alagoas pede mais subsídio Próximo Texto: SAE queria manter empresa Índice |
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