São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Reggae é o ritmo preferido em 3 regiões

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Reggae, rock e música popular brasileira lideram o ranking de gêneros musicais nos quatro pontos cardeais da cidade, segundo pesqisa feita pelo Datafolha entre frequentadores de casas noturnas de São Paulo. Em Santana e Tatuapé, o pagode aparece entre os quatro primeiro lugares.
A surpresa é que o ritmo importado originalmente da Jamaica chega ao primeiro lugar das preferências em três regiões: Itaim/Jardins (empatado com rock), Santana e Tatuapé. Na Vila Madalena, obtém um honroso segundo lugar, atrás apenas da MPB.
Os três gêneros campeões dialogam há muito entre si. O reggae e o rock já estão entranhados na música popular brasileira. Por seu lado, a MPB, nome genérico para a música não-erudita produzida no Brasil e que abriga muitos gêneros, desde sempre foi maleável a influências exógenas.
Foi através da MPB -a versão de Gilberto Gil para ``No Woman, No Cry" de Bob Marley- que o reggae se popularizou por aqui; a Bahia criou o samba-reggae (reggae de raiz mais tambores afro), só para citar alguns exemplos.
Desde o Tropicalismo que música brasileira e rock mantêm uma relação de amor e ódio. Quando Gil e Caetano se fizeram acompanhar pelos Mutantes, que amavam os Beatles e os Rolling Stones, e Jorge Ben (aquele que se tornou Ben Jor) transpôs a levada do cavaquinho para a guitarra elétrica, a MPB entrou para o mundo pop, para o bem e para o mal. Os anos 90 viram o movimento reverso: jovens que tomaram rock'n'roll na mamadeira redescobriram a MPB.

Bairros
Se as semelhanças desenham uma esboço do que é o gosto musical do paulistano, as diferenças indicam traços eloquentes da personalidade de cada bairro.
Fiel à sua origem hippie/universitária, a Vila Madalena elege a MPB como gênero de predileção. Entre os estilos rejeitados, os que são moda nas rádios FMs -dance music e pagode-, também uma demonstração de lealdade ao rótulo ``alternativo".
Santana e Tatuapé definitivamente não gostam de jazz -música mais cerebral ou considerada ``chique", que só alcança resultados expressivos na Vila Madalena (79% gosta ou gosta mais ou menos) e Jardins/Itaim (86%).
Dance music recebe um alto índice de aprovação em Santana e Tatuapé (bairros que têm casas noturnas grandes). O pagode, samba de uma nota só para consumo das FMs, se consagra como estilo do além-Tietê: 77% declaram gostar muito ou mais ou menos em Santana e 68% no Tatuapé. No Itaim/Jardins, o índice chega 60%: prova de que os mauricinhos também entraram na onda.
Rap e funk -formas mais agressivas e radicais da música negra norte-americana- recebem rejeição maciça nos quatro bairros. Uma hipótese: ambos os gêneros estão associados à periferia e à raça negra. Duas coisas que a classe média quer ver bem longe.

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