São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Falta definição da política cambial, diz Ibrahim Eris

Ex-presidente do BC acha que plano vive indefinição

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR-ADJUNTO DE ECONOMIA

Ibrahim Eris, ex-presidente do BC (Banco Central) e atualmente sócio da corretora Linear, diz que o país está sem uma política cambial definida desde que o BC mudou a ``banda" -na primeira semana de março.
Por política cambial definida deve-se entender que tipo de papel caberá ao câmbio nesta nova fase do Plano real.
Eris diz que o plano vive um momento de indefinição porque todas as regras de contratos, salários e tarifas públicas foram estabelecidas para vigorarem por um ano. O Plano Real comemora seu primeiro aniversário em julho e tudo está por ser redefinido -inclusive o papel do câmbio.
No jargão dos economistas, ``banda" é um regime em que o governo define um preço mínimo e máximo para a variação do preço do real em relação ao dólar. Ou seja, o governo estabelece em que ponto vai entrar para comprar dólares (brecando a queda da cotação) e quando vai vender (para impedir novas altas).
No caso brasileiro, a ``banda" vai de R$ 0,88 a R$ 0,93. E tanto o ministro Pedro Malan (Fazenda) como o presidente do BC, Pérsio Arida, garantem que ela veio para ficar durante ``muito, muito tempo".
Âncora
Eris afirma, porém, que é dos poucos economistas que continuam acreditando, mesmo depois da crise mexicana, na possibilidade de se ancorar o plano de estabilização no câmbio.
A âncora cambial (outro jargão dos economistas) significa expor a economia aos preços e à concorrência internacional. É deixar claro que o país tem dólar (reservas internacionais) e pode importar.
Por decorrência, as empresas precisam ganhar eficiência e os preços tendem a se nivelar com os praticados no mercado internacional -mais estáveis.
O país entrou, agora, em uma segunda fase deste processo. Na primeira, a da consolidação da abertura, tratou-se de expor o país à concorrência. Agora, cabe ao Estado criar as condições necessárias para a competição -é a chamada redução do ``custo Brasil", o que inclui desde a reforma tributária até um sistema de transporte mais barato.
Preço do dólar
O ex-presidente do BC considera que houve um erro na operação do câmbio. Para ele, não há incompatibilidade em ancorar o plano e estabelecer um preço para o dólar que seja compatível com a necessidade de se gerar superávits comerciais (exportações maiores que importações).
Desde o início do Real, Eris tem criticado a (falta de) atuação do BC e afirma não concordar com a idéia de que o governo não pode comprar dólares para sustentar as cotações.
O problema do governo (e do mercado) é o de encontrar um preço para o dólar que seja capaz, ao mesmo tempo, de permitir que o país volte a ter uma balança comercial positiva (exportações maiores que importações) e que não represente um obstáculo à estabilidade interna de preços.

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