São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Juros podem fechar mês de junho abaixo de 4,04%

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

As taxas de juros dos títulos públicos praticadas no dia-a-dia, no chamado over-Selic, que baliza todo o mercado financeiro, podem fechar junho abaixo dos 4,04% pré-anunciados pelo Banco Central (BC) para aquele mês.
No mercado futuro de DI-over (Depósito Interbancário), as projeções de taxa efetiva são de 3,95% para junho e 3,71% para julho.
Embora não sejam os mesmos mercados, o DI -juro praticado entre os próprios bancos- acompanha de perto o over-Selic (títulos públicos) monitorado pelo BC, mas sempre um grau acima.
Maio deve fechar com 4,24% no over-Selic e 4,28% no DI.
Houve uma reversão clara de expectativas quanto à evolução dos juros ao longo deste mês, em função do cenário mais favorável.
Na área cambial, os dólares estão de volta. A inflação mostrou ter pouco fôlego para continuar subindo e a economia começou a dar sinais de desaquecimento.
Houve avanços, também, nas reformas constitucionais em discussão no Congresso.
No início de maio, as projeções do DI para junho e julho eram, respectivamente, de 4,44% e 4,55%. Caíram gradualmente (ver gráfico) e na última sexta-feira, apesar de leve alta, estavam em 3,95% e 3,71%. Mudaram as projeções e a tendência.
A confusão do over
Havia dúvidas no mercado se o BC sancionaria a queda, mas ele já definiu que o over-Selic abrirá junho com a taxa-over de maio.
Esta decisão do BC, aliás, esquentou a polêmica dos juros. Isto porque o juro diário continuará exatamente o mesmo. Cairá a taxa efetiva em todo o mês.
A taxa-over é uma referência de cálculo do juro diário. Dividida por 30, vale para um dia útil. A atual de 5,67%, que será mantida, representa 0,1889% ao dia útil.
Em maio, com 22 dias úteis, deve acumular 4,24%. Como a taxa-over será mantida em junho, com 21, projeta os 4,04%.
Se o BC quisesse manter em junho a mesma taxa efetiva de maio, precisaria praticar uma taxa-over de 5,94% (0,1979% ao dia útil).
A queda da taxa efetiva dos juros não foi mais acentuada porque o BC ainda espera sinais ``inequívocos" do desaquecimento.
Com o Real perto de um ano, o reajuste de tarifas públicas traz dúvidas sobre a inflação.
Além disso, o BC tem por norma não fazer movimentos bruscos em sua política de juros. Isto foi quebrado em 10 de março para conter a turbulência do câmbio.
A equação também é complexa porque se o BC provocasse uma queda brusca do juro neste momento, o real precisaria ser desvalorizado frente ao dólar para compensar os exportadores (que antecipam o câmbio e aplicam no mercado os reais que recebem).
Ao mesmo tempo, juro muito baixo costuma aquecer a economia em qualquer lugar do mundo. É bom lembrar que o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de bens e serviços produzidos no país) cresceu 10,5% no primeiro trimestre de 95 sobre igual período de 94.
Há certo consenso de que um ritmo desses, se mantido, seria fatal para o plano de estabilização. Economia com excesso de consumo abre espaço para reajustes de preços (inflação) e aumento das importações (problemas cambiais).
A política de juros altos do BC vem sendo muito criticada porque, na visão do empresariado e de muitos economistas, afeta mais a oferta da indústria que a demanda. Teria efeito inverso ao pretendido.
Outro complicador é que juro alto significa pressão sobre quem deve. E o maior devedor no país é justamente o governo.
A dívida pública cresce a tal ponto que pode anular todo o ganho futuro que o governo espera obter com as privatizações (que reduziriam o estoque da dívida).
A tendência dos juros é de queda gradual, mas seu efeito é quase nulo no crédito porque o custo, aqui, embute impostos, compulsórios, lucro, taxas operacional e de risco, que sobe quando aumentam os calotes (ver texto ao lado).

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