São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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O pescoço da sociedade civil

DEMIAN FIOCCA

Uma sociedade em que alguns mandam e o resto do povo abaixa a cabeça é o oposto de uma sociedade civilizada. Basta assistir ao Jornal Nacional e parar para pensar. A humilhação que o governo pretende impor aos petroleiros cria um clima desfavorável a qualquer outra reivindicação trabalhista, qualquer nova demanda social.
Desenha-se um novo cenário político mais agressivo e conservador. O governo procura aproveitar a situação para impor aos sindicatos uma derrota da qual eles não se recuperem tão cedo. Se for essa a vitória, dela sairá um país mais fraco, mais esgarçado.
O sindicalismo é a expressão mais importante dentre as várias organizações e movimentos da sociedade civil. E sem a mobilização da sociedade, estaríamos no império da selvageria. É o jugo dos coronéis sobre a vida e morte, o locupletar da corrupção, o reino total, enfim, dos donos do poder.
A saudável disputa social é fator de avanço da humanidade. Há apenas cinco gerações o período de trabalho no então país mais desenvolvido do globo, a Inglaterra, era de 14 horas diárias. E as crianças cumpriam essa jornada fabril com nove anos de idade. Até 1932 as mulheres não votavam no Brasil.
É um jogo feio o que se assiste hoje. Vêem-se ex-intelectuais, que construíram seu prestígio utilizando-se do pensamento humanista e democrático da esquerda, tentarem agora quebrar de modo intransigente, quase truculento, o pescoço da sociedade civil.

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