São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Sumiu o dinheiro

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O Banco Central divulgou na última semana estatísticas monetárias referentes a abril. Um exame destes números revela as origens da crise de liquidez que atinge instituições financeiras, consumidores e empresas.
Temos uma situação rara na nossa economia: os juros são altos não porque o Banco Central está retirando dinheiro via open market, mas porque ``não há" dinheiro no mercado.
Pelo contrário, hoje os juros só não são mais altos porque o BC está injetando recursos no sistema financeiro via recompra de títulos públicos.
Esta diferença não é desprezível, seja do ponto de vista teórico, seja sob a ótica da operação da economia.
No quadro institucional existem quatro canais básicos de expansão de moeda primária.
O primeiro resulta do saldo das operações do Tesouro, através de sua conta corrente junto ao Banco Central. Em abril, esta conta foi positiva em R$ 2 bilhões, correspondendo a um recolhimento de moeda da mesma ordem de grandeza. Entre janeiro e março houve equilíbrio na conta.
Um segundo canal são as contas do mercado de câmbio, por onde passam as operações de comércio exterior e movimento de capitais financeiros. O saldo desta conta em abril foi negativo em R$ 100 milhões e negativo em R$ 4,2 bilhões durante janeiro/abril, resultando, nos dois casos, também em uma contração monetária.
O terceiro canal está relacionado com as diversas operações entre o Banco Central e as instituições financeiras. Elas englobam os ajustes nos depósitos compulsórios, bem como nas operações de redesconto e empréstimos de liquidez.
Em abril, os bancos aumentaram seus depósitos ou reduziram seus empréstimos junto ao BC em mais de R$ 1 bilhão por causa do saldo destas movimentações. Entre janeiro e abril, depositaram no BC um total de R$ 4,5 bilhões.
A contração conjugada provocada por estas três fontes chegou a R$ 3 bilhões em abril e a R$ 10,8 bilhões no quadrimestre. Para acomodar parte deste aperto, o BC resgatou títulos públicos do mercado, expandindo a base monetária em R$ 1,3 bilhão em abril e R$ 6,9 bilhões no ano.

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