São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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América Latina volta a trazer preocupação

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na última sexta-feira recebi um telefonema preocupado de um importante jornalista econômico internacional. Mais perplexos que indignados, compartilhamos uma certa inquietação com a queda generalizada nas Bolsas latino-americanas.
Como entender os recuos num momento em que o pior do ``efeito tequila" parece ter passado, em que Menem foi reeleito no primeiro turno, a inflação cai e os déficits comerciais recuam no México e na Argentina?
Na verdade não há mistério: simplesmente ainda há mais notícias ruins que boas na região. Na semana passada, em especial, tanto no México quanto na Argentina houve uma piora significativa nas condições econômicas.
Na Argentina as notícias sobre fusões de bancos preocupam desde antes das eleições. Agora o cenário ficou mais sombrio com dados de arrecadação de impostos declinante. Já se fala até em pedido de ``waiver" da Argentina ao Fundo Monetário Internacional. Não vai ser possível cumprir as metas de ajuste prometidas.
Mais da metade da indústria automobilística argentina está parada. A queda nas vendas das concessionárias em 12 meses atinge 38%. A única salvação à vista para as indústrias argentinas, o mercado brasileiro, também está entrando em processo de desaquecimento.
Noutra frente, o cenário argentino também ficou turbulento. Apesar de toda a abertura comercial e da liberalização financeira, um tema sensível como a lei de propriedade intelectual tem sido alvo de conflitos diretos com os EUA. Houve até bate-boca entre o presidente Menem e o embaixador dos EUA, James Cheek.
No México, a quebradeira de empresas atinge proporções alarmantes. Gigantes locais como Aeromexico ou Blockbuster são dados como tecnicamente quebrados. Já se arquiteta um plano de reestruturação de dívidas para impedir uma onda de falências em série. E o acúmulo de títulos públicos dolarizados com vencimento previsto a partir de junho traz de volta o fantasma da moratória externa. A queda do dólar frente ao iene e ao marco, depois de algumas semanas de calmaria, foi atribuída no final da semana passada à nova deterioração das condições financeiras no México.
No Brasil talvez houvesse mais motivos para uma entrada mais forte dos investidores estrangeiros nas Bolsas. Afinal, na semana passada iniciou-se com mais vigor a reforma da Constituição, com maior abertura para empresas estrangeiras e flexibilização do monopólio estatal nas telecomunicações. Mas ocorreu o contrário. Não vieram os investidores e as Bolsas murcharam.
Entre outras razões típicas do mercado, como a realização de lucros, pode estar pesando também o fato de que o Brasil, como México e Argentina, deverá passar por ajustes nada agradáveis nas próximas semanas e meses. O desaquecimento está ganhando força e há indícios de que a reversão do déficit comercial ainda vai demorar. Assim, apesar do movimento cambial ter sido positivo ao longo de todo o mês de maio, no final da semana passada os mercados de dólar fecharam pressionados, com ligeira desvalorização do real.

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