São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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O segundo tempo da modernização

LUÍS NASSIF

O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) começa a trabalhar no segundo tempo do grande programa de modernização da economia.
Um primeiro documento, ainda bem preliminar, foi distribuído na semana passada pela ministra Dorothéa Werneck no fórum dos secretários de Indústria, Comércio e Tecnologia.
O raciocínio da ministra é que a mudança da política exterior e seus desdobramentos, no início dos anos 90 -o primeiro tempo do jogo-, apesar das profundas transformações acarretadas à economia brasileira, ainda foram políticas defensivas, de ruptura com o velho modelo.
A competitividade foi corretamente centrada no binômio qualidade e produtividade, preparando as empresas para competir em um ambiente aberto.
Esse primeiro movimento foi responsável por um grande crescimento da economia brasileira nos últimos anos, mas basicamente em cima de ganhos de produtividade e ocupação de capacidade ociosa.
O segundo tempo do jogo pressupõe a consolidação do primeiro movimento e o avanço, com incorporação de tecnologia e design, a fim de dotar o produto brasileiro de maior valor agregado.
Decálogo
A estratégia está sendo montada em cima de um conjunto de programas. No plano institucional, há quatro subconjuntos relevantes. O primeiro, a implantação da informatização das importações, no âmbito do Siscomex. O segundo, a consolidação da legislação de comércio exterior. O terceiro, a consolidação das normas e padronizações, através do Inmetro. O quarto, um conjunto de ações visando desonerar as exportações e criar formas de financiamento.
No âmbito setorial, haverá o relançamento e extensão do Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade para as áreas de serviço, comércio, turismo e administração pública. Simultaneamente, o lançamento de um programa brasileiro de design -já estruturado- com conformação semelhante ao do PBQP. Além de um conjunto de programas de estímulo às exportações, com criação de linhas de financiamento, seguro de crédito, desoneração tributária e criação de novos pólos, visando estimular exportações com valor agregado.
A ministra lembra que em 1990 teve início programa visando substituir exportação de madeira por móveis. Naquele ano o setor moveleiro exportou US$ 30 milhões. No ano passado, as exportações chegavam a US$ 300 milhões. E planeja-se a meta de US$ 1 bilhão para o ano 2000.
Se sobrar
Um dos pontos essenciais desta nova etapa é a questão do investimento. Este ponto está sendo tratado com a Fazenda e o Planejamento. Pretende-se trabalhar no âmbito das poupanças externa, das empresas, da pública e da pessoa física. Além da possibilidade de dispor de recursos provenientes da privatização -se a política monetária deixar sobrar algum.
No dia em que o país perceber que temas como este são cem vezes mais relevantes para a geração de riquezas e de emprego, e redução da miséria, do que essas loucuras monetárias, se poderá começar a ter esperanças.

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