São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Mecenas

SÍLVIO LANCELLOTTI

Uma informação de impacto, mastodôntico impacto, sacudiu, esta semana, a Velha Bota, um país acostumado aos dramas, às óperas, às epopéias.
Na quinta, o "La Gazzetta dello Sport" publicou texto, assinado por Antonello Capone, anunciando que a Juventus de Turim mantém sob controle, além do elenco de quase 40 jogadores, outros 66, de todas as regiões da nação.
Mérito de Luciano Moggi, ex-Napoli e ex-Inter, que a Juve contratou, em 94, como seu consultor de novas aquisições.
Careca, simpático, eternamente sorridente, afável com a imprensa, Luciano Moggi é um cartola profissional, modelo para os dirigentes do mundo inteiro. Recebe da Juve cerca de US$ 400 mil ao ano.
A ele se credite, justa e honrosamente, a criação do esquadrão do Napoli de Maradona e Careca, campeão em 87 e 90.
Metade dos seus ganhos, Moggi oficialmente distribui a 11 observadores, do sul ao norte da Bota. Dentre eles, curiosamente, consta o nome de um certo Ermenegildo Giannini, apenas o pai de Giuseppe, o ``Príncipe", o capitão da equipe da Roma.
Os atletas se vincularam a Moggi de inúmeras maneiras. Existem aqueles em fim de contrato, que assinaram opção de troca de clube, como o zagueiro Bia, da Inter, Lombardo, da Sampdoria, o brasileiro André Cruz, do Napoli, e o holandês Aron Winter, da Lazio.
Existem, ainda, jovens promessas como Florio, 19, meia do Consenza, Série B, ou Doni, 22, armador do Bologna, C-1.
O controle não significa que a Juve pretenda absorver todos os jogadores tutelados por Moggi. No entanto, graças ao manager, a ``Signora" pode impedir que um determinado craque vista uma camisa rival. Pode, também, utilizar determinados atletas em transações que reforcem o seu elenco.
A Juve, enfim, frase de Capone, dispõe do condão de interferir, com uma eficiência devastadora, nas estratégias de mercado de todos os outros times da Itália.
Choca saber que uma agremiação ostente tal poder de bastidores.
Paralelamente, porém, a competência de Moggi não prejudica os jogadores. Pelo contrário. Também os atletas aumentam sua capacidade de barganha.
As leis do comércio são excelentes quando favorecem ambas as partes. Isso, em geral, só acontece quando, do comércio, participa um profissional como Moggi. Fica a moral para dirigentes do Brasil, amadores e toscos até a medula.

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