São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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As 500 Milhas e um novo espectador

EMERSON FITTIPALDI

No domingo passado, quando estava a caminho do aeroporto, voltando para casa, tentei pensar no que me tirou das 500 Milhas de Indianápolis.
Juntei pensamentos, conclusões, rezei e achei minha explicação filosófica: por algum motivo, o qual nunca saberei, eu não deveria estar na corrida.
Sempre acreditei que, se você ajuda a sorte e o destino, eles te ajudam também. Eu tinha certeza de que classificaria, mas não era o momento.
Como havíamos andado bem em Phoenix, todos na Penske acreditávamos que estaríamos bem em Indianápolis. Isso já é histórico na Indy: a projeção do resultado de Indianápolis vem da prova em Phoenix.
Já treinando para a classificação, notei que o carro estava sem aderência. Consegui virar em 217,5 mph, mas no limite. O carro saía de traseira na entrada das curvas e escapava de frente na saída delas.
Comecei a acreditar que tínhamos problemas de aerodinâmica. Do carro que usamos em Phoenix, a diferença eram as asas dianteira e traseira, que são menores em Indianápolis, e as asas laterais. Em Phoenix, há mais força lateral.
E mais, estava calor. Com o ar menos denso, perde-se ``downforce" e, logo, aderência. Não havia problema mecânico.
Quando, no dia 13, constatamos que não dava para classificar os Penskes, começou a segunda etapa do pesadelo: escolher outro carro.
Existia uma limitação para a escolha: usar um carro com motor Mercedes. Os carros do Bobby Rahal vieram bem acertados e virei em 277 mph num treino. Sabíamos, porém, que os chassis Lola perdiam performance no calor.
No sábado seguinte, fui tentar a classificação. Para mim, se eu virasse em 225,2 mph, estaria dentro. Roger Penske estava mais concentrado no carro do Unser Jr. e não cheguei a falar com ele.
Estava preparado para abrir a primeira volta, quando a equipe avisou, pelo rádio, que não aceitaria menos de 226 mph.
A média das minhas três primeiras voltas estava em torno das 225,5 mph. Na quarta, ficaria perto das 226 mph. Mentalmente, falei: ``consegui".
Fiquei chocado ao ver que a equipe mostrava a bandeira amarela, cancelando as voltas.
No domingo, acabei tendo problemas com a válvula do turbo, além do que a bateria descarregou e o painel apagou. Na terceira volta, fiz 224 mph. Foi o que me tirou da prova.
Estarei em Indianápolis hoje. Pela primeira vez assistirei às 500 Milhas como espectador. Aí, é pensar em Milwaukee.

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