São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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A pesquisa pela contracepção

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Preocupada com os calamitosos efeitos da superpopulação em áreas carentes, a OMS (Organização Mundial de Saúde) há muito patrocina programas de pesquisa em biologia da reprodução e anticoncepcionais.
Mas, nos últimos 20 anos, não tem conseguido estimular novas tecnologias nesse setor por vários motivos, especialmente econômicos e financeiros.
Tentando redobrar o esforço nesse sentido, ela criou novo projeto de anticoncepcionais destinados ao homem.
A nova linha de pesquisa parte do princípio que o aumento de testosterona (hormônio sexual) na corrente circulatória provoca diminuição ou mesmo anulação da produção de espermatozóides, que em geral passam de 20 milhões a 2 milhões por centímetro cúbico.
O excesso de testosterona diminui a produção de dois hormônios pela hipófise -o hormônio luteinizante e o folículo-estimulante.
Estes, por sua vez, estimulam a cadeia de reações que gera os espermatozóides. Aumentando a testosterona circulante, raciocinaram os químicos, a quantidade de espermatozóides deve baixar.
E assim de fato acontece. No primeiro ensaio clínico da OMS em 1990, os pesquisadores aplicaram, em 300 voluntários, 52 injeções semanais de 200 miligramas de testosterona e verificaram supressão total dos espermatozóides em 70% dos injetados.
Durante esse período, só se observou uma gravidez entre as parceiras dos 300 voluntários. A injeção acarreta, entretanto, inconvenientes: acne e aumento de peso.
Antes de ser adotado -e o meio de aplicação torna difícil sua escolha- o processo terá de sofrer novas provas.
Estas deverão procurar anticoncepcionais mais prolongados na ação e novas técnicas de distribuição. Por exemplo, anticoncepcionais cuja aplicação se faça uma a duas vezes por ano.
Outra técnica em desenvolvimento é a anticoncepção logo após o coito, mediante a ingestão pela mulher de uma antiprogestina, como a discutida pílula abortiva, a RU 486 ou mifepristona, seguida de uma prostaglandina.
Esse método, que se revelou eficiente, não deverá ser bem recebido porque traz a idéia e o risco de abortamento.
Outras linhas de pesquisa estão sendo seguidas. O óvulo é envolvido pela chamada ``zona pelúcida", camada de glicoproteína. Uma proteína, a ZP3, isolada dessa camada, revela-se capaz de atrair o espermatozóide e a ele se ligar, impedindo sua fusão com a zona pelúcida e evitando assim subsequente fertilização.
No laboratório, se têm produzido sinteticamente algumas substâncias do grupo dos oligossacarídeos que podem se comportar como a ZP3. Mas ainda é preciso realizar muitas experiências nesse terreno.
Essas pesquisas são mais do que necessárias porque os oligossacarídeos, que até agora pareceram a estratégia mais adequada, estão presentes em toda parte, das células imunes às nervosas, o que poderá ensejar efeitos colaterais imprevisíveis.
Em 1987, foi descoberta uma proteína, a fertilina, responsável, pelo menos em parte, pela fusão dos elementos sexuais.
Mais tarde se descobriram certos peptídeos (fragmentos de proteína) que inibem ou reduzem a fusão do espermatozóide com o óvulo em 90% dos casos (experiências em cobaias).
Mas isso ocorre quando o espermatozóide já penetrou na zona pelúcida, e pode ser tarde demais como meio anticoncepcional.

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