São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995 |
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O QUE É A DEPENDÊNCIA O CONCEITO O conceito de dependência, ou pelo menos aquelas noções comuns compartilhadas pelos vários pensadores que a discutiram, define uma relação de subordinação entre partes do sistema capitalista. Quer dizer: entre economias ``centrais" (países do Oeste europeu, EUA e Japão) e ``periféricas" (América Latina, parte de Ásia e África). Os países de economia dependente foram, em geral, colônias e tiveram um desenvolvimento industrial tardio. ``Dependem", para sua manutenção ou desenvolvimento industrial, de capitais e tecnologia comprados no exterior, no ``centro". Tal financiamento e importação de máquinas e indústrias não é (não tem sido), em geral, bastante para gerar um desenvolvimento autônomo (que se autofinancie e desenvolva tecnologia) nem para criar uma economia exportadora suficientemente forte para pagar aquelas importações e empréstimos. Este vínculo de subordinação impediria o controle das decisões sobre a produção e o consumo nos países periféricos. A TEORIA E FHC Os textos e livros que compõe a chamada ``Teoria da Dependência" não constituíram um sistema. Ademais, vários pensadores trataram o tema de maneira diferenciada. A síntese inicial do problema da dependência que FHC escreveu com o sociólogo chileno Enzo Faletto entre 1966 e 1967 (``Dependência e Desenvolvimento na América Latina"), desenvolve e enriquece um pensamento que começou a se formar nos anos 40, na América Latina, e prosseguiu em outros trabalhos até meados da década de 70. FHC E FALETTO FHC e Faletto trouxeram novidades ao debate sobre a dependência. Não consideravam mais, por exemplo, que o desenvolvimento da América Latina não seria determinado, como um todo uniforme, e diretamente, pela economia e política dos países centrais. Cada caso teria de ser analisado separadamente, levando-se em conta a configuração política e social de cada país. ``A relação interna das classes sociais é que torna possível e dá fisionomia própria à dependência", dizem FHC e Faletto. Isto é, o vínculo de subordinação, apesar de derivado da própria estrutura das economias periféricas (e enfim da economia capitalista mundial), só opera a partir de decisões, resultado de lutas políticas, tomadas no próprio interior do país. DESENVOLVIMENTO Para FHC e Faletto, a dependência não implica estagnação econômica. A subordinação aos países centrais, se analisado o contexto internacional da época e os interesses do empresariado nacional, por exemplo, teriam mostrado o contrário. ``Depois da internacionalização do mercado interno (multinacionais) e da nova divisão internacional do trabalho" (que permitiu um certo nível de industrialização a países antes meros exportadores de produtos agrícolas), a dependência ``não colide mais com o desenvolvimento das economias dependentes". Este desenvolvimento, no entanto, não implica a idéia de maior justiça social. ``Evidentemente, esse tipo de industrialização vai intensificar o padrão de sistema social excludente que caracteriza o capitalismo nas economias periféricas, mas nem por isso deixará de converter-se em uma possibilidade de desenvolvimento, ou seja, um desenvolvimento em termos de acumulação e transformação da estrutura produtiva para níveis de complexidade crescente. Esta é a forma que o capitalismo industrial adota no contexto de uma situação de dependência", escrevem FHC e Faletto. Os beneficiados desse processo seriam as empresas estatais (que ``puxaram" o desenvolvimento industrial de base), as multinacionais e as empresas associadas a essas duas. É o chamado ``tripé do desenvolvimento dependente-associado". Texto Anterior: Ainda a "teoria" da dependência Próximo Texto: CRONOLOGIA Índice |
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