São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995 |
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``No real choices"?
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - No Carnaval deste ano, de passagem pelo Brasil, um alto funcionário estrangeiro quis conversar com um pequeno grupo de jornalistas brasileiros. Mais perguntou do que respondeu, invertendo a ordem tradicional das coisas.Depois, decretou: independentemente do juízo de valor que se faça sobre as reformas propostas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, não havia ``real choices" (não havia alternativas reais). Admito que não engoli facilmente a sua conclusão. Muitos anos de estrada pelo mundo mais o espírito crítico exacerbado pelo jornalismo marca Folha me impedem de aceitar tranquilamente frases definitivas sobre política. Três meses depois, no entanto, começo a achar que o tal funcionário tinha razão pelo menos em parte. Pode até haver ``real choices", mas ninguém conseguiu até agora colocá-las de pé e vendê-las ao distinto público. É claro que a maior parte da culpa é dos partidos de esquerda, em tese os que estão obrigados a apresentar alternativas ao modelo neoliberal predominante, com variações em geral pequenas, na maior parte da América Latina. Mas parece que tais partidos não conseguiram livrar-se de um problema crônico: não sabem como combater a inflação e/ou manter a estabilidade da economia, depois de derrubada a inflação excessivamente elevada. E por um motivo simples: no fundo, achavam (ou acham) que a inflação é um problema do capitalismo. Logo, superado este, estaria superada igualmente a inflação. É possível que eu esteja simplificando ou generalizando demais. Talvez haja economistas de esquerda que tenham propostas estabilizadoras (dentro do capitalismo). Mas parece evidente que não conseguem fazer-se ouvir. No caso das outras reformas, a esquerda aparece como imobilista. Não aceita as propostas que chama de neoliberais (nem todas de fato o são), com o que passa por defensora do status quo, que não é exatamente paradisíaco nem no Brasil nem no restante da América Latina. Por isso, perde uma eleição atrás da outra. Texto Anterior: Quando menos é mais Próximo Texto: A favor da CUT Índice |
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