São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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caretas do Brasil

HELOISA HELVECIA

O grupo servia para atenuar a dureza da formação acadêmica. Quando entrou no quinteto, não precisou mais dele. "Minhas referências já não eram rigorosamente nem a música clássica nem a de rádio."
Quando o músico pousou os olhos no rabequeiro popular (tocador de violino) e quis recriar aquele jeito de tocar, teve que abdicar de boa parte das técnicas do virtuosismo: o tipo de comportamento, de trinado, de acentuação. Veio outro choque, desta vez com o mestre do instrumento, catalão rígido. "Nossa comunicação musical ficou impossível."

"Mistérios do povo"
De 1970 até 1980, pelo menos, Antonio Nóbrega pesquisou elementos que fizeram a diferença do seu teatro. Conviveu com emboladores, passistas, poetas, "conjunto maravilhoso e heterogêneo". Via e imitava o que o outro fazia. "Tentava confeccionar apetrechos teatrais deles. Ia no lugar onde catavam o material rústico que transformavam em material cênico." Na época, lia o psicanalista suíço Carl Jung. Costumava dizer que o que fazia era uma "Iniciação aos Mistérios do Povo Brasileiro."
Interesse por psicologia, só teórico. "Prefiro cascavilhar os meus vícios e virtudes no dia-a-dia", diz Nóbrega,devagar e de maneira "nobiliárquica" -gostando das palavras, escolhendo as mais precisas, sonoras, anacrônicas e tecendo com termos populares uma fala sofisticada, de acento próprio, como seu teatro.

Parindo Tonheta
O primeiro fruto da tal "empreitada junguizada" foi "A Bandeira do Divino", apresentado em Recife, 1978. Ali, Nóbrega já esboçava a careta do capeta. Fazia tanta coisa junto -produção, direção, atuação-, que estreou afônico. "Era uma tragédia."
No contato com o bailado popular bumba-meu-boi, ficou fascinado com a galhofeira figura do mateus.
"É o portador do dionísico, do grotesco", diz, didático, o ex-professor que estudou circo na Suíça e equilibrou "precariamente", por cinco anos, o ensino de Artes Corporais na Unicamp e o teatro.
Mateus seria o "ancestral basilar de Tonheta": corresponde ao zanni, o criado bufão da commedia dell'arte, antecedente dos arlequins. Nóbrega discorreria horas sobre arlequins e correlatos nordestinos. Interessa aqui que o mateus que gerou Tonheta é o guariba, tipo de macaco.

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