São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Governo tira R$ 40 bilhões da economia

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo retirou da economia desde setembro, por meio dos compulsórios sobre depósitos bancários, algo em torno de R$ 40 bilhões.
Pelos compulsórios, parcela dos recursos captados pelos bancos (depósitos em conta corrente ou aplicações em CDBs, por exemplo) são obrigatoriamente depositados no BC (Banco Central). Esses recursos deixam, portanto, de serem usados no financiamento para o setor privado.
A cifra corresponde a cerca de 10% de toda a riqueza produzida no país num dado ano, ou seja o PIB (Produto Interno Bruto).
Compulsórios em valores tão elevados ajudam a compor um cenário de asfixia da atividade econômica. Com menos dinheiro disponível, sobe o seu preço (a taxa de juros), que o empresariado julga excessivamente elevada.
``Mesmo quem se dispõe a pagar os juros pedidos, não acha crédito", afirma o empresário Boris Tabacof, titular do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na outra ponta do balcão, concorda Henrique Meirelles (Banco de Boston), também presidente da Câmara America de Comércio: ``O governo enxugou tanto que não sobra muito dinheiro para emprestar."
Até porque muito do que sobra fica também com o governo, na forma de títulos da dívida pública -parte deles de compra igualmente compulsória pelos fundos de pensão ou fundos mútuos.
É por isso que Meirelles olha com certa inveja para o modelo dos países asiáticos. ``Lá, o governo demanda menos dinheiro. Logo, os juros podem ser baixos, o que gera investimento", aponta o banqueiro.
Outro aspecto do modelo asiático é elogiado pelo empresário Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas). ``Nos `tigres', o governo define alguns setores e aposta neles", comenta Magalhães.
Alguns países asiáticos são conhecidos por ``tigres" pelo tamanho pequeno e pelo vigor econômico (são os países de maior crescimento econômico hoje no mundo).
No Brasil, a queixa é a de que os empresários que apostaram no crescimento estão sendo punidos pela política de juros altos.
``O empresário está ansioso para ampliar, mas teme que, na hora que completar a expansão, não encontre comprador para o produto dele", reclama Tabacof.
A explosão dos juros, no entanto, esfriou o ímpeto, recriando um círculo vicioso apontado por Henrique Meirelles: ``Com o aumento do consumo e sem investimento, há o risco de a inflação disparar, o que leva o governo a aumentar os juros, o que reduz consumo e investimento."
Além disso, os juros altos pesam nos custos das empresas.
``Um juro real (descontada a inflação) de 4% a 5% leva facilmente a embutir 25% de custo financeiro no preço do produto",ensina Jorge Gerdau Johanpeter, comandante do grupo Gerdau.

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