São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil é um ``global trader"

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Chile, México e Argentina não servem de modelo para a economia brasileira. O Brasil tem a maior base instalada de estrutura industrial multinacional da América Latina. É a partir dessa característica estrutural que se pode entender o sentido e as prioridades da política econômica.
Já não é mais o serviço da dívida que dita a agenda econômica. O objetivo é introduzir o máximo de competitividade na estrutura produtiva. Competitividade é sinônimo de inserção internacional.
A inserção internacional tem três dimensões: comercial, financeira e produtiva. No comércio, o modelo brasileiro inclui relações balanceadas entre os três principais blocos econômicos mundiais: Nafta, União Européia e Ásia. Está em vias de constituir um bloco regional próprio, a Área de Livre Comércio Sul-Americana.
Nas finanças, o Brasil está plenamente inserido nos novos circuitos globais. O governo acaba de vender títulos no Japão, num total de quase US$ 1 bilhão. Recorde-se que o mercado japonês é talvez o mais conservador do mundo. Absorver papéis brasileiros é um bom sinal. Para quem está no Brasil, o sinal é igualmente claro: o governo gostaria de endividar-se em dólares. Aumenta assim o compromisso com a estabilidade da taxa de câmbio. Afinal, seria suicídio endividar-se em dólares para logo depois decretar uma maxidesvalorização.
Mas a grande âncora da integração competitiva da economia é a própria estrutura multinacionalizada. É a partir dessa base que surgirão novos investimentos produtivos, uma vez que a estabilidade alcançada seja confiável e que o governo tenha sucesso em flexibilizar os monopólios estatais.
Esse é o modelo que está implícito nas políticas do governo. Quem não estiver em condições de participar do jogo competitivo de um ``global trader" que se cuide. Será vítima de recessão, desemprego e atraso tecnológico.

Texto Anterior: Recessão já faz parte do vocabulário
Próximo Texto: Equipe diz que vale quase tudo para impedir nova alta de preços
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.