São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Filme discute condição feminina no Irã

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE CANNES

A seleção da ``Quinzena dos Realizadores" impressiona pela quantidade de personagens desajustados. Faltando apenas quatro filmes para encerrar o seu panorama 95, dos doze filmes exibidos, apenas um prega a esperança - ``O Balão Branco", do estreante iraniano Jafar Panahi. Tem a chancela de Abbas Kiarostami, que fez o roteiro de encomenda e o deu de presente para o seu primeiro assistente de direção e ator coadjuvante em ``Através das Oliveiras".
O restante da seleção impressiona pela quantidade de casos clínicos sem solução. À parte ``O Balão Branco", os destaques foram o sueco ``Entre Dois Verões", de Kristian Petri, o austríaco ``Cabeça de Mouro", de Paulus Manker, o belga-palestino ``Conto dos Três Diamantes", de Michel Khleifi, o britânico ``Três Degraus ao Paraíso", de Constantine Giannaris, ``A Ilha da Tristeza", do taiwanês Hsu Hsiao-Ming, a co-produção franco-anglo-alemã ``A América dos Outros", de Goran Paskaljevic e o americano ``Safe", de Todd Haynes. As sessões de Cannes baixaram a bola dos independentes americanos revelados este ano em Sundance.
A Quinzena comemorou o centenário do cinema mostrando ``Pather Panchali", dirigido pelo indiano Satyajit Ray. A dupla Merchand e Ivory criou uma fundação cultural que pretende restaurar toda a obra de Ray, com um total de 28 longas.
O planeta Cannes não definiu direito que novos astros entrarão na sua orbita. Na sua seleção de novos talentos estranha-se também a ausência de uma mão feminina. As mulheres estão na rota de colizão de grande parte dos seus personagens. Mas a direção é dos homens... ``Três Degraus ao Paraíso" é um filme de balada. O diretor estreante é grego e vive em Londres desde 76. Uma jovem solitária quer vingar a morte do namorado e sai à caça das três últimas pessoas que o viram: uma apresentadora de tevê, um político gay e um traficante.``O Balão Branco" é um escape de realismo fantástico. A difícil condição feminina no Irã é simbolizada na figura de uma menina de sete anos que desafia as convenções sociais e finalmente vai para a rua fazer o que os adultos não permitem. A genialidade de Kiarostami se sente na brilhante sequência dos encantadores de serpentes que tentam lhe tomar o dinheiro com que ela quer comprar um peixe dourado. Há muitos outros momentos memoráveis na jornada da pequena Razieh, que perde de novo o dinheiro e não volta para casa enquanto não consegue realizar o seu desejo.
O americano ``Safe" é assustador. Uma mulher substitui as futilidades cotidianas em Hollywood por ataques histéricos e convulsões alérgicas até terminar num retiro purificador dirigido por um picareta que age como se fosse um pastor evangélico. A metáfora do filme é clara. Enquanto uns ricos sobem muros cada vez mais altos para isolar-se dos miseráveis, já há os que vão além e pensam em viver em um novo mundo...isolado pela desinfecção.
``A América dos Outros" segue o destino de uma criança da Iugoslávia afogada no Rio Grande, no México. Por trágico que seja, o filme é uma ótima comédia sobre clandestinos e minorias em Nova York.

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