São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Jim Jarmush visita o faroeste em novo filme

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

``Homem Morto", de Jim Jarmusch (``Mais Estranho que o Paraíso"), encerrou anteontem a mostra competitiva do festival de Cannes em seu lançamento mundial.
É um estranho faroeste em preto e branco estrelado pelo ator Johnny Depp (o mesmo que fez ``Eduardo Mãos-de-Tesoura"). Antes que homenageado, o gênero é visitado pelo universo todo próprio do cineasta.
``A abertura da forma western, e sua inseparável conexão com a América no seu mais amplo sentido, me atrairam a ele", explicou Jarmusch. ``Mas tenho que admitir que ``Homem Morto" não é um faroeste tradicional -o gênero foi usado de fato como um ponto de partida."
A intenção é clara; o resultado, menos preciso. ``Homem Morto" segue outro dos estrangeiros de Jarmusch.
Bill Blake (Johnny Depp) é um americano perdido numa América que desconhece: a fronteira violentamente em expansão ao oeste durante a segunda metade do século 19 nos EUA. A urbana fragilidade do personagem de Johnny Deep está estampada nos finos óculos que porta.
A força do novo ambiente vai radicalmente modificá-lo. Passivo e pacífico, Blake mata por acidente um filho do chefão local (o grande ator Robert Mitchum) e se vê forçado a fugir com três pistoleiros em seu encalço (vividos por Lance Henriksen, Michael Wincott e Eugene Byrd).
Um índio, surrealmente bem letrado, ``Ninguém" (Gary Farmer), socorre-o acreditando ter se encontrado com a versão reencarnada do seu ídolo literário, o poeta inglês William Blake.
Blake abre seu caminho a bala, recebe algumas ele mesmo e lentamente agoniza. Para ele a morte talvez seja a sua única saída. Já para o índio ``Ninguém", é apenas parte de um ciclo e uma forma de depuração.
Jarmusch não respeita nada as regras do gênero. Blake é um anti-herói perto do catatonismo. Sua trajetória desenha-se com forte acento irônico. ``Homem Morto" traz boas piadas. Deixa-se ver mas não chegar a lugar algum. É impossível ocultar uma sensação de vazio ao fim de tudo. Tudo somado, algo me diz que vai virar filme ``cult".

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