São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Wilson Pickett faz festa soul em festival de blues

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O blues não teve espaço na terceira noite do Nescafé & Blues, no Palace. O soul de Wilson Pickett ofuscou as outras atrações: Sue Foley e Carlos Fernando.
A banda de Pickett, a Midnight Movers, entrou no palco de sola, colocando todo mundo para dançar com uma mistura de clássicos do soul: ``I Can't Turn You Loose", ``Papa's Got a Brand New Bag", ``Give It Up That Thing", ``My Girl", ``Ain't Too Proud to Beg".
Alternando coreografias divertidas e com extrema competência musical, os oito integrantes da banda fizeram um show à parte. A atração foi a baixista Gail Parrish, uma velhota com saia no tornozelo e óculos fundo de garrafa.
A platéia já estava ganha quando Pickett entrou, de óculos, cabelo curto e pançudo, cantando a clássica ``Midnight Hour".
Os seguranças tiveram tanta dificuldade para conter as pessoas que tentavam chegar perto do palco que acabaram desistindo.
Simpático, Pickett tirou pessoas da platéia para dançar e cantar com ele enquanto desfiava um repertório de sucessos.
Arrasou em ``Mustang Sally" e mostrou sua longa versão dançante para ``Hey Jude", dos Beatles, com final apoteótico.
O show só não foi perfeito porque foi curto. Durou 70 minutos e deixou de fora várias músicas que estavam programadas, como ``Everybody Needs Somebody" e ``Sugar Sugar". Mesmo assim, valeu por cada centavo pago pelo ingresso.
O vocalista Carlos Fernando (do Nouvelle Cuisine) foi o primeiro a subir no palco. Ajudado por um trio acústico básico -contrabaixo, bateria e piano- o cantor apresentou um show cujo título, ``Falsos Blues", já dava uma pista do que estava por vir.
Trafegando pela tênue linha que separa o jazz do blues, ele interpretou clássicos como ``Summertime". Ousou pouco. Um raro momento de atrevimento foi a fusão de ``Basin Street Blues" a ``Ovelha Negra", de Rita Lee.
Carlos Fernando tem um perfeito domínio da bela voz, fez um show enxuto, de 40 minutos, mas que, certamente, funcionaria melhor em pequenos ambientes do que em espaços como o Palace.
A segunda atração da noite foi a guitarrista canadense Sue Foley. Uma lourinha que toca direitinho, é bonitinha e simpática. O problema é que também canta. Chamou mais atenção pela voz esganiçada e pela guitarra cor-de-rosa do que pelos escassos dotes musicais.
Ela convidou um amigo ao palco, Thomas Hancock, que, com jeitão de caipira, desfiou sua voz nasalada durante duas canções.
O show de Sue Foley foi ``feijão com arroz". Nada que justificasse sua presença no festival. Seus melhores momentos foram quando tentou copiar o estilo do guitarrista Steve Ray Vaughan.
Nascendo no mesmo país que o guitarrista virtuose Jeff Healey -que também é louro, mas cego- Sue Foley é uma prova de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

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