São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Numerologia

Foi lamentável, para dizer o menos, a atitude do presidente do Banco Central, Pérsio Arida, ao anunciar aos líderes dos partidos governistas e a toda a nação que os juros estavam sendo reduzidos quando de fato isso não ocorria.
Utilizar artifícios para induzir em erro o público leigo é algo inaceitável em quaisquer circunstâncias. Tratando-se de uma autoridade da estatura do presidente do BC, tal frivolidade causa até desconforto a quem a presencia.
Pérsio Arida declarou que a equipe econômica estava reduzindo os juros pois a taxa básica paga pelo governo passaria de 4,25% em maio para 4,04% em junho. Tal fato é verdadeiro, mas, como apontou Luís Nassif, não resulta de uma redução efetiva dos juros. A diferença decorre apenas do fato de que o próximo mês tem um dia útil a menos do que o que finda. As taxas pagas pelo governo a cada dia útil, que é o que interessa, continuam exatamente iguais: 0,189%.
Deve-se reconhecer que o presidente do BC cumpriu o que disse quanto à flexibilização dos recolhimentos compulsórios. Foram liberados os prazos para a renegociação de créditos aos devedores inadimplentes e a rolagem dessas dívidas ficou isenta do recolhimento compulsório de 15% do valor ao Banco Central. Trata-se uma ajuda para tentar salvar quem já está com a água pelo pescoço. É uma medida tímida, mas vai no sentido do que foi anunciado.
Face a perspectivas mais otimistas quanto ao setor externo e ao andamento das reformas, o mercado financeiro (independentemente do Banco Central) está operando com uma previsão de juros ligeiramente mais baixos para junho. Mas são ainda mudanças cosméticas. E muitos setores produtivos, estrangulados pela falta de crédito, precisam bem mais do que isso.

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